Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

russomanias

russomanias

Sonho de uma noite de inverno

Era uma situação digna de se ver toda aquela gente apressada mas feliz. Estávamos em Janeiro de 2015. Os pais levavam à escola os filhos pelas mãos, e os miúdos e miúdas lá iam saltitantes em direcção à entrada, confiantes, saudáveis, bem alimentados e radiantes. Crianças com fome é assunto vergonhoso erradicado há já muitos anos. Os pais, esses, de imediato corriam para os seus empregos, pois trabalho é coisa que nunca falta neste país, assim se queira e se esteja disposto a aceitar pelo menos 1000 euros, o mínimo que quem trabalha recebe ao fim de cada mês.

 

Claro que mesmo com tão boas condições de vida, nunca um pai ou uma mãe deixarão de contar com ajuda dos avós dos seus filhos para dar uma mais que necessária ajudinha, já que os idosos e reformados são uma faixa etária estimada e considerada neste país, com justas e mais que boas reformas para poderem gozar a vida depois de tantos anos de trabalho. Aliás, seria impensável, crime até, beliscar no que quer que fosse os direitos adquiridos pelos que trabalharam e sempre descontaram para a sua reforma.

 

Não encontro por essa Europa fora jovens mais motivados e confiantes quanto ao futuro que os portugueses. O desemprego jovem é quase inexistente e as universidades estão abertas às bolsas de todos, principalmente dos que menos têm. Que mais poderemos nós desejar?... empregos não faltam, os ordenados são mais que razoáveis, os idosos vivem regalados e os jovens, esses, estão mais que confiantes quanto ao seu futuro. 

 

Trrrriiiiiiiimmmmmm!... toca o despertador... o sonho terminou... este país não pode ser PORTUGAL!...

 

 

Fechado para Balanço

Mais um ano chega ao fim e é chegada a hora de fechar a loja para balanço. Claro que isto é uma forma arrevesada e contabilística de afirmar que chegou o momento de parar um pouco e fazer um pequeno apanhado do que de bom ou de mau se passou durante este ano de 2014. Este é um exercício obrigatório para toda a gente, que todos deveriamos fazer, mas o certo é que por vezes só de forma inconsciente o concretizamos. Eu por mim, quando me dá na telha, costumo escrever na agenda nova de cada ano os objectivos pessoais e de família para esse ano, fazendo de vez em quando uma revisão ao andamento das coisas e à sua concretização ou não. Sinceramente, não sei dizer se tudo isto que faço é bom ou não. Mas uma coisa eu sei... alguém acima de nós acaba por controlar quase sempre os nossos cordelinhos.

 

Que podemos nós pois dizer sobre o que de bom tenha acontecido em Portugal em 2014?... a saída da Troica?... o ligeiríssimo abrandamento das medidas de austeridade?... o crescimento propalado, mas sempre fictício, do emprego?... o aumento do número de turistas?... o hipotético crescimento da economia em algumas décimas?... o sobe e desce das nossas exportações?... muito sinceramente, tenho dificuldade em sublinhar uma única situação que seja digna de a considerar como boa.

 

Infelizmente, como coisas mais negativas ou menos boas, o rol é bem maior, como seja a pobreza crescente de grande parte da população; a falta de empregos reais (não a fazer de conta) para todas as faixas etárias da população; o roubo continuado e indigno dos reformados; o abandono e maus tratos aos idosos; os casos crescentes de crianças que vão com fome para as escolas; a falta de perspectivas de futuro para milhares de jovens; os inúmeros casos de corrupção ao mais alto nível dos escalões do estado, das autarquias e dos bancos; as falências de milhares de empresas e particulares; o crescente aumento dos casos de maus tratos e assassinatos no meio familiar, sem dúvida derivados do agudizar das dificuldades; a falta de perspectivas e medidas do governo relativamente a um melhor futuro e, por último, a consciência de que os culpados pela actual situação caótica do país vão continuar numa boa e a subir e a descer do poleiro do poder como se nada de mal tivessem feito... e isto com os votos da maioria dos que mais foram atingidos.

 

Por conseguinte, no Deve e Haver deste meu breve Balanço de 2014 a Situação Líquida da loja apresenta-se assim... altamente negativa!...

 

Pessimista, eu?... não!... trilhado!...

 

 

VIDA E DESTINO - Vassili Grossman (livro)

vida.jpg

 

Vassili Grossman foi um extraordinário reporter da II Guerra Mundial que nos deu neste lancinante livro, confiscado e proibido na antiga União Soviética durante dezenas de anos, imagens profundas e avassaladoras da invasão e violência perpetrados pelos nazis aquando da invasão do seu país. Através do seu livro descreve-nos a vivência diária no campo de batalha de simples soldados, oficiais e comandantes de exércitos comuns e famosos, sem deixar de abordar em profundidade os traumas psicológicos e patológicos dos próprios Hitler e Estaline. Vida e Destino é um livro profundo e impressionante da literatura russa moderna, comparado por alguns ao Guerra e Paz de Leon Tolstoi.

 

Através deste assombroso livro Vassili Grossman faz chegar até nós imagens terríveis do que foi o sofrimento do povo russo e as respostas dadas pelo mesmo no decorrer do tenebroso conflito, descrevendo e intercalando ambientes familiares, snipers escondidos entre as ruinas de Stalinegrado, laboratórios científicos e o vergonhoso e infindável Gulag.

 

Mas, ao mesmo tempo que descreve as duras provas e sofrimentos a que o povo russo foi sujeito pelos nazis fascistas, Vassili Grossman não se coibe de analisar e escalpelizar os intrincados e emaranhados regimes totalitários em confronto, nem tampouco de identificar nos mesmos linhas condutoras similares e objectivos comuns, compreendendo-se assim as razões e os motivos da proibição do livro na extinta União Soviética.

 

Leitura recomendada a quem gostar de temas relativos à II Guerra Mundial e se sinta liberto de preconceitos dogmáticos quanto à essência do ser humano e à luta diária pelo seu bem estar e sobrevivência... esteja onde estiver.

 

(VIDA E DESTINO  -  Vassili Grossman  -  Publicações Dom Quixote  -  855 páginas)

 

 

Estado ladrão?...

António trabalhou durante cinquenta anos numa poderosa empresa de panificação, umas das melhores e maiores a nível nacional. Todos os empregados da dita empresa desde o primeiro dia de trabalho sabiam perfeitamente que a dureza da sua actividade lhes deixaria no corpo graves mazelas, mas também sabiam que traria no futuro mais longinquo as suas boas compensações. Os ordenados nunca foram por aí além, é certo, mas também tinham que ter em conta outras regalias futuras, como aquela de virem a receber da empresa, todos os anos, quando se reformassem, 12 pães em cada mês do ano, sendo que nos meses de Julho (férias) e Dezembro (Natal) receberiam 24 pães, o dobro portanto. Este contrato com os empregados que entravam em idade de reforma sempre foi cumprido pela empresa, já que havia um acordo tácito que afirmava ser o mesmo uma das contrapartidas dos contributos mensais dos ditos trabalhadores para a sustentabilidade da empresa no decorrer dos seus anos de trabalho. Entretanto, de há uns anos a esta parte António começou a ouvir uns certos e persistentes zuns zuns de que a empresa estaria em dificuldades, tudo consequência de más políticas de investimento, admissão desnecessária de "boys" e suas esbeltas secretáriasgestão ruinosa e desvios persistentes de elevados fundos para uso pessoal de alguns administradores. Tudo zuns zuns, é certo, mas geralmente quando há fumo o fogo certamente anda por perto.

 

Acontece que este ano António chegou a Dezembro e quando se dirigiu à sua antiga empresa para levantar os seus 24 pães só lhe entregaram 12, com o argumento de que os outros 12 que faltavam já lhe haviam sido entregues durante os 12 meses do ano, de Janeiro a Dezembro,  à razão de mais 1 por mês. António olhou estupefacto para quem o atendeu e atirou logo... "a ser assim, nesse caso eu deveria ter recebido 13 pães por mês e somente recebi 12, como se explica?". O outro, empertigado e cheio de razão, avançou: "As contas não são assim!... como a empresa está em dificuldades (!), aos 12 que lhe deveriamos dar a cada mês retiramos 1, pelo que efectivamente só recebeu 11 por mês, o que, acrescido a mais 1 respeitante a Dezembro dá efectivamente os tais 12. Por conseguinte, da nossa parte as contas estão feitas"!... Em resposta a esta explicação, António só se lembrou... "LADRÕES"!...

 

Naturalmente que já se aperceberam que isto não passa de uma história imaginária, mas o facto é que foi uma muito parecida com esta que contaram este mês de Dezembro a milhares de reformados e pensionistas em Portugal, com o fito de explicar o desaparecimento (não pagamento...) do respectivo subsídio de Natal.

 

 

Dicionário de Política para Tótós - de A a Z

JUSTIÇA - Nem sei por que é que me dou aqui à chatice de vir falar sobre Justiça, pois todos sabem que muito mais rentável e mobilizador é falar sobre as vidinhas preenchidas e empolgantes da Cristina Ferreira ou do Mickael Carreira. Aquilo sim, são assuntos da ordem do dia, onde todos nós aprendemos que quanto menos e pior se fala mais sucesso e admiradores temos. Já quanto à tal dita Justiça, nunca é por demais referir que vivemos num país em que a dita cuja é um bem a todos acessível, em perfeita igualdade de circunstâncias e independentemente do meio social de onde se vem. Assim, seja pobre, remediado ou rico, cada português pode muito bem dizer que sempre contou e contará com a Justiça inteiramente a seu lado, se bem que algumas histórias que por aí se contam nem sempre corroborem esta afirmação.

 

É claro que muita gente por aí diz que só quem tem unhas toca guitarra, pelo que será de concluir também que só quem tem dinheiro pode tocar a Justiça para a frente, ou não será assim? Todos sabem que quem tem dinheiro e amigos bem colocados no poleiro sempre poderá contratar uma catrapazada de advogados e, consequentemente, engendrar e escrevinhar recursos atrás de recursos, protelando a dita Justiça "sine die", até à prescrição dos supostos crimes de corrupção, fraude fiscal ou branqueamento de capitais. E é vê-los depois por aí, aos que têm a tal maquia quanto baste, a gozar com o pessoal e a chaparem-nos na cara com a deixa de que afinal... o crime compensa. Quanto ao Zé do Boné, aquele azarado laparoto que perdeu o emprego e em má dia de sorte se lembrou de deitar a mão a um chouricito jeitoso que estava bem quietinho na prateleira do Pingo Doce, esse terá de pagar as favas bem pagas, sem tossir nem mugir. Como podem constatar, melhor Justiça não poderá haver, pois sempre será de se deitar mão do famoso princípio da proporcionalidade, em que quem mais tem mais  "esquemas" possui ao seu dispor, e quem menos tem lá terá de se aguentar ao tranco como sempre... e assim sucessivamente.

 

 

Futebol de ataque

Se no puro terreno da bola a idade nem sempre é um posto, antes pelo contrário, já aos comandos de um clube de futebol a idade parece ser mais do que um posto... é uma garantia de sucesso! Veja-se o caso do franganote e verde Bruno do Sporting, que até aqui há uns meses andava de peito feito e arrotava bravura futebolística por tudo quanto era canal de TV. Ele era o maior, o único detentor da verdade no mundo da bola... o resto eram só vigaristas e compradores de árbitros. Berrou contra o Benfica, atroou contra o Porto, malhou forte no ultimamente calado Vieira, insultou e distratou o Pintinho do clube do norte. Enfim, verdadeiro Deus era somente o Bruno... o resto era pura e esconça velharia. Como se diz cá no Porto... arrogante do caraças!...

 

Muito me admira ultimamente a postura do "red" Vieira, figura cimeira do sempre grandioso Benfica. Outrora falador inveterado contra o sabidola e calejado Senhor dos "azuis", não perdendo nunca uma oportunidade para o tratar do piorio, decidiu há uns tempos a esta parte calar-se e passar finalmente ao necessário trabalho... e os resultados estão à vista. Desde que mudou de atitude relativamente ao "velho" inimigo e lhe copiou os passos... mais dois campeonatos na gaveta!... e fez muito bem, que isto de insultar por insultar e o outro é que ganhava sempre não tem piadinha nenhuma, nem os sócios continuariam a cair por muito mais tempo naquelas conversas da treta. Aprendeu a lição com quem sabia muito mais de futebol e da vida do que ele... o que é de louvar.

 

Já quanto ao sempre fiúza e nortenho Pintinho pouco mais há a dizer. O humilde e laborioso Porto é uma autêntica fábrica de fazer carcanhós. Compra jogadores na Colômbia por dez tostões e vende-os ao Real e ao Chelsea por dez milhões. Cai durante um ano mas ganha dinheiro, no ano seguinte está já na berra e a malhar p'ró título. E como a idade e a sabedoria na direcção do futebol é uma cátedra, juntou-se ao sulista e doutorando Vieira e pregou uma valente pranchada no caloiro e arrogante Bruno, que em vez daquele vozeirão de espanta pardais canta agora escaganifadamente que nem garnizé... que é o que ele no futebol é.

 

À boa maneira portista... viva o futebol de ataque!...

 

 

Dicionário de Política para Tótós - de A a Z

IGUALDADE - Eis verdadeiramente um tema que vale mesmo a pena abordar nos dias que correm. Quem souber compreender e explicitar o que é isso do princípio da igualdade em Portugal tem mais que meio caminho andado para concluir com êxito o almejado curso de direito a que tantos jovens aspiram. Se não for capaz disso o melhor é esquecer o assunto e dedicar-se à política, desculpem... à pesca do robalo (como no processo Face Oculta...). Efectivamente, as manifestações positivas do dito princípio da igualdade são transversais a toda a sociedade em que vivemos, sendo por demais evidente que por elas se explicam  por que é Portugal o pais europeu em que é mais curta a diferença entre ricos e pobres. Senão vejamos:

 

Que desigualdade existe entre uma criança que vai para a escola e que tem os dois pais desempregados e o filho de um secretário de estado que saca 5000 euros mensais, quase outro tanto de ajudas de custo e Mercedes com motorista à porta?... nenhuma. Que desigualdade podemos nós apontar naquele caso de uma ex-ministra do CDS (será uma tal de Cardona?...) que foi contratada para levar papeis de um lado para o outro na Caixa Geral de Depósitos e ao fim de seis meses de trabalho, desculpem, descanso e divertimento, saiu com uma reforma vitalícia de 4000 euros/mês e os outros milhares de casos de reformados que trabalharam uma vida inteira para terem que viver hoje com reformas de pouco mais de 200 euros mensais?... também nenhuma! E, já agora, que desigualdade é essa que existe entre aquele conhecido caso daquele Senhor do partido do Governo que ajudou a vender Portugal à TroiKa (será Catroga?...) e que, como recompensa pelas suas sábias recomendações, foi convidado para mandar uns bitaites na EDP uma ou duas vezes a cada 30 dias, a troco de uma mala com 40.000 euros/mês, entre outras reformas que já embolsa, e, por outro lado, as centenas de milhares de pessoas que neste país se contentam com 505 euros/mês, com o marido ou a esposa desempregados e mais duas ou três bocas para sustentar?... não existe desigualdade nenhuma!...

 

Por isso, calem-se de vez essas vozes que por aí nos atazinam os miolos todos os dias com essas balelas de que Portugal é um país de extremos e de altíssimas desigualdades sociais, pois não há país na Europa, suponho, onde impere mais a igualdade de oportunidades que o nosso. Melhor que Portugal... só mesmo no corno de África!...

 

 

A traição do meu contabilista

Ao assistir descontraído a uns breves trechos da Telenovela BES que nos últimos dias têm passado à hora dos telejornais, tenho-me deliciado com os ensinamentos e truques que tenho aprendido com toda aquela carrada de gente que tem desfilado pela comissão de inquérito da Assembleia da República. Aquilo são autênticas lições de Economia, Finanças e Direito Bancário, só acessíveis em prestigiados mestrados e doutoramentos na Católica ou em Harvard. Por isso, sempre que posso não perco um episódio, pois para além do mais são tais lições embelezadas por discursos extremamente suaves e eloquentes, só acessíveis a crâneos de uma requintada e profíqua educação ao mais alto nível. Burro é pois aquele que não tem visto e valorizado tais episódios televisivos, pois não é todos os dias que nos podemos vangloriar de ter o "dono disto tudo" ali em frente a nós, mesmo à mão de semear, sem medos e necessidades de fazer vénias, salamaleques e saídas em arrecuo sempre que nos chateamos das ditas "lições" e desligamos enfastiadamente o aparelho.

 

Uma das mais importantes "aulas" a que assisti tem a ver com aquela em que foram abordadas as funções e responsabilidades atribuídas ao contabilista do BES. Segundo o "dono disto tudo", seu excelso patrão, é o contabilista e não ele o único responsável pela derrocada do Banco, pois, ocupado como andava, desconhecia completamente a verdadeira situação do mesmo e a sua carência de milhões de carcanhóis no seu Deve e Haver... de fundos melhor dito. Assim, desconhecia muito honestamente (estão a ver...), o paradeiro dos largos milhões que se puseram a andar de bicicleta antes da derrocada, nada tendo a ver com o desencaminhamento, sob palavra de honra, das catrapazadas de milhões de euros para offshores espalhadas por esse mundo fora, pelo que os milhões dos ditos carcanhóis que andam para aí a voar sem rei nem roque é tudo obra do excelente trabalho do Senhor Doutor... contabilista. Mas que soberba prelecção!...é obra, hein?... contabilista do caraças!...

 

Perante todas estas valiosas "lições" que têm passado às escancaras e de borla nos nossos telejornais, só me resta despedir de imediato o meu "doutor" contabilista por justa causa, e chamá-lo de traidor por tudo aquilo que se tem escusado de me ensinar e transmitir no que respeita à sua mais que certa experiência de esconder números e valores dos meus variados negócios e outras traficâncias, offshores e outras manigâncias, saberes que sempre estiveram amplamente ao dispor dos arrojos e manobras do senhor "dono disto tudo" mas que a mim, mortal ambicioso e bastante necessitado, nunca me foram ensinadas por quem o deveriam ter sito... o meu mais que bem pago contabilista!...

 

 

Dicionário de Política para Tótós - de A a Z

HOLOCAUSTO - Certamente me perguntarão vocês o que terá a ver o holocausto perpetrado pelo regime nazi-fascista da Alemanha com a actual política em Portugal. E a pergunta tem toda a razão de ser, visto que, felizmente, pelo menos para já, ainda estamos bem longe de podermos dizer que vivemos em tal regime. Contudo, observando o triste momento por que passa o nosso país, as imposições draconianas que nos têm sido impostas pelo partido da Senhora Angela Merkel, qualificarmos o actual momento como de um autêntico holocausto social não é nada do outro mundo. Qual foi o verdadeiro objectivo do holocausto hitleriano de 1939-1945? Outra coisa não foi senão a eliminação fisica, aos milhões, daquilo a que os nazi-fascistas chamaram de "raças inferiores", por consequência, dos mais desprotegidos e mais fracos.

 

Ora, que vemos nós hoje em Portugal senão a implementação de políticas desastrosas impostas pela autoritária Alemanha e que visam o empobrecimento generalizado de milhões de pessoas, o desenvestimento no Serviço Nacional de Saúde, os cortes generalizados na Educação e no apoio às famílias? E que dizer do traiçoeiro e desapiedado ataque aos vencimentos dos pensionistasreformados e às suas pereclitantes condições de vida e sobrevivência? São aos milhares as pessoas que têm sido empurradas para a pobreza com estas políticas de austeridade, e não tem havido Bancos Alimentares que cheguem para responder a tanta miséria e falta de condições de vida dignas. 

 

E que dizer igualmente das perspectivas de futuro para aquelas milhares de crianças que em Portugal têm sido enviadas diariamente para a Escola de estomago vazio? Se isto não é um verdadeiro holocausto social é então o quê?... uma festa?...

 

 

Simplesmente... Natal!...

Haverá alguém que não goste do Natal?... haverá certamente, mas a grande maioria estou certo de que gosta ou, pelo menos, tolera. Natal faz-nos lembrar os tempos de criança, em que tudo é sonho e fonte de divertimento, em que a vida se nos depara pela frente em toda a sua pujança e esplendor. Natal a mim faz-me lembrar aqueles anos em que minha mãe e meu pai se levantavam cedo nesse dia para irem à missa e nós, miúdos, ficavamos ansiosamente aguardando que chegassem para saltarmos de um pulo da cama para inspeccionarmos os brinquedos depositados debaixo da chaminé lá de casa. Natal para mim são as rabanadas feitas com pão de carcaça, leite, ovos e muito sabor a limão e pau de canela. Natal para mim é a saborosa letria feita com leite, limão, canela em pau e desenhos de canela em pó. Natal para mim é a grossa posta de bacalhau cozido, bem ornamentado com batata, penca, alho, azeite e vinagre. Natal para mim é o bolo rei e o pão de ló do Pingo Doce... e um bom queijo da serra regado com Vinho do Porto.

 

Mas então, dirão vocês, e o espírito de Natal, aquela doce sensação de bem estar, entreajuda e solidariedade para com os que nos rodeiam? Bem, esse espírito carece de estar presente em nós durante todo o ano e não só na época de Natal, como por muitas e variadas razões geralmente acontece. Se há algo com que não me resigno no período de Natal é com os elevados índices de consumismo e despesismo em escala elevada, sinais de que a dura austeridade afinal não toca a todos... somente aos da base da pirâmide. Claro que milhares trocarão de carro e outros milhares partirão de férias para a neve, somente ficaremos por saber se serão os mesmos milhares que este ano viram os seus carros de luxo confiscados pelas Finanças, como foi noticiado há dias, que isto de querer mostrar "status" a toda a força mas não ter um vintém para mandar tocar um cego tem os seus custos na "fotografia" social.

 

Para mim, que sempre me contentei com pouco, que venham então daí o grosso bacalhau, as bem molhadas rabanadas, a doce e requintada letria, o bem frutado bolo rei, o macio pão de ló, o suave e amanteigado queijo da serra, o espirituoso e bem português Vinho do Porto e, se possível, um interessante e bem documentado livro de história... que já me dou por inteiramente satisfeito.

 

 

Pág. 1/2