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russomanias

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1º de Maio... a trabalhar!...

Passei hoje de manhã perto das instalações da RTP no Monte da Virgem, em Gaia, e lá estava um grupo de trabalhadores a protestar contra os donos dos Hipermercados, que teimam em ter as portas abertas no feriado do 1º de Maio, dia do trabalhador em todo o mundo. É claro que os inteligentes e espertos "empreendedores" da distribuição sabem-na toda e logo nos dirão que se o "dia do amor" é para amar e o "dia do beijo" é para beijar, logo o "dia do trabalhador" mais não é do que um dia como os outros... para trabalhar! E o pessoal, pacato e pachorrento como é, lá se tem comovido com estas e outras asserções e tem alinhado no postulado de fé que envolve toda a lógica capitalista que respeitamos e aceitamos e, mais até, adoramos: pois se há alguém que no dia 1º de Maio procura comprar uma garrafa de Coca Cola bem fresquinha, lá terá de haver um outro que lha possa vender com proveito, sem restrições nem imposição de horários de qualquer espécie. E é esta Lei, justa ou injusta, não interessa, que hoje comanda o mundo e faz mover mercados. E não é à toa que o principal dono do Pingo Doce só gosta de montar os seus negócios de distribuição nos países a que ele chama de "católicos", pois nesses, e agora dizemos nós, desde pequeninos que nos ensinam a obrigatoriedade de acatar, sem contestação, a Lei do Senhor.

 

E sabem que mais? Eu até acho muito bem, muito bem mesmo, que no Dia do Trabalhador o pessoal "trabalhe" mesmo até à exaustão, que trabalhem todos afincadamente nas suas empresas e nas ruas e façam uma grande algazarra para exigir salários compatíveis com os dos restantes países europeus, que denunciem os falsos contratos a prazo e os também falsos recibos verdes, que exijam ruidosamente o pagamento dos salários em atraso e a pré-reforma dos trabalhadores desempregados de longa duração com mais de 55 anos, que exijam do Governo o retomar do pagamento do abono de família para os casais com filhos, a devolução dos cortes nas reformas e a sua actualização condigna, a aposta em força na formação e educação dos jovens e adultos que já estejam ou queiram voltar à escola ou à universidade, com a redução ou eliminação total das propinas e, já agora, que o presente Governo crie condições para um funcionamento cabal e satisfatório do Serviço Nacional de Saúde e que os nossos idosos e os restantes cidadãos sejam tratados com o respeito e a dignidade a que têm direito e que vêm expressos na Constituição Portuguesa, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

 

Por aqui se vê o tanto que há para "trabalhar" neste 1º de Maio!...

 

 

O 25 de Abril contado às criancinhas

Era uma vez um belo e frondoso país com mais de 800 anos, situado na parte ocidental, junto ao mar, duma rude jangada de pedra chamada Ibéria. Nesse pequeno país viveram muitos e variados povos antigos a que chamaram celtas, celtiberosgregos, fenícios, cartagineseslusitanos, romanos, alanos, vândalossuevos, visigodos, árabes e, mais tarde, dessa riquíssima e maravilhosa amalgama resultaram aqueles que hoje são conhecidos como portugueses, pelo que logo nos apercebemos de que estamos a falar do nosso conhecido, pacato e muito querido Portugal. Não vos vamos matraquear aqui com aquelas centenas de anos da nossa confusa mas empolgante história, em que estiveram à frente do país reis e rainhas das mais variadas vontades e linhagens, o que interessa, sim, é referir que os nossos bravos e destemidos antepassados, exímios navegadores e descobridores de especiarias e de metais e pedras preciosas, percorreram mundo e sacaram portentosas fortunas, mas que de todas essas pilhagens e riquezas pouco mais resta hoje que o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Convento de Mafra e umas quantas barrocas Igrejas.

 

Mais importante é dizer que a partir de Maio de 1926 e até 24 de Abril de 1974 esse pequeno país a que hoje chamamos o nosso Portugal viveu um longo período de ditadura de Salazar e Caetano, dois fascinoras que criaram e aperfeiçoaram a PIDE, polícia de perseguição política, proibiram a liberdade de expressão e pensamento, afundaram o pais na miséria e no analfabetismo, obrigaram centenas de milhar de portugueses a emigrar e tornaram o país num dos mais atrasados da Europa. Com a Revolução do 25 de Abril de 1974 e o derrube do ditador Caetano, foram muitos os que puseram rápido e alegremente o cravo vermelho ao peito e os portugueses conseguiram de novo a liberdade por todos almejada e puderam assim voltar a dizer e a escrever o que pensavam. O analfabetismo diminuiu a partir daí drasticamente e as condições de vida da população melhoraram substancialmente. Mas então, perguntam vocês, e com razão, porque será que hoje em dia mais uma vez as pessoas têm medo de falar, vivem mal, estão desempregadas, voltaram a emigrar às centenas de milhar, os alunos abandonam as escolas e as universidades e Portugal continua como um dos países mais atrasados da Europa?

 

A resposta que vos poderia e deveria dar seria para vocês, crianças, certamente um pouco longa e maçadora, pelo que vos deixo aqui, para poderem entender melhor, parte da letra de uma canção do José Barata Moura, muito certeira e esclarecedora logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e que hoje se mantem muito actual:

 

 

Cravo Vermelho ao peito

A muitos fica bem.

Sobretudo faz jeito

A certos filhos da mãe!

 

 

Entenderam?... se não entenderam perguntem ao vosso pai ou à vossa querida mãezinha. Façam isso.

 

 

Democracia "low cost"

Tudo começou com as viagens de avião "low cost". Ir a Paris ou a Londres por 20 ou 30 €, ou até muito menos, é coisa hoje banal. Claro que vai tudo a monte e com fé em Deus, sem bagagens e sem direito a comes e bebes, nem sequer ao cafézinho da ordem. Tudo reduzido ao mínimo, tudo muito apertadinho, enfim, uma seca. Depois vieram as confeitarias e os cafés "low cost", as imobiliárias "low cost", os automóveis "low cost", e até já soube de advogados a trabalhar em sistema de... "low cost". Claro que nestes casos os promotores dos negócios e sistemas "low cost" foram-nos logo avisando dos sucedâneos que iriamos encontrar: pasteis, pães e cafésinhos do tamanho de mosquinhas e ao preço da uva mijona, serviços e consultas prestados pelo telefone ou pela internete, certamente através de gravações, sem direito a pedidos de esclarecimento, pagos impreterivelmente através do NIB e com resultados efectivos mais que duvidosos. Tudo uma grande trapalhada e, seguramente, para sacar ao  mais uns trocos a qualquer preço. Mas o actual sistema de vida "low cost" é muito mais do que isto e abrange já muitos outros aspectos da sociedade.

 

Em muitas empresas não interessa já se o trabalhador tem formação suficiente ou não, desde que seja capaz de se sujeitar a umas quantas e árduas tarefas pré-definidas durante 8, 10 ou 12 horas seguidas, sem dias certos de descanso e com férias marcadas ao sabor da vontade patronal... tudo por um salário "low cost" de 200, 300, 400 ou, em casos extremos, de 505€/mensais. Os doentes neste país são atirados, a granel, para os corredores das urgências dos hospitais públicos e aí deixados ao abandono e a morrer, dadas as condições "low cost" impostas ao Sistema Nacional de Saúde e ditadas pelas imposições da austeridade governamental. Por outro lado, o sistema de ensino "low cost" em Portugal está já a dar os seus frutos, com dezenas de milhares de alunos que abandonam as escolas e universidades. E temos também as reformas "low cost" de centenas de milhares de reformados e pensionistas, agora sujeitas à pressão dos pais que se veem obrigados a ter que apoiar os filhos no desemprego, em conjunto com os próprios netos.

 

A tecnologia "low cost" campeia hoje por todo o lado, até mesmo na atitude da maioria do cidadão comum, que alegremente se dispõe a vender a democracia, a sua dignidade e o futuro das próximas gerações... a troco de uma qualquer mentira-promessa de um potencial e esfarrapado candidato a primeiro ministro.

 

 

A Queda de BERLIM - 1945

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Faz no próximo dia 8 de Maio 70 anos sobre a assinatura do acto de capitulação da Alemanha que colocou um ponto final na II Guerra Mundial. Apesar do passar dos anos, ainda hoje este extraordinário acontecimento mantem a sua influência no desenrolar dos principais fenómenos dos nossos dias, principalmente se tivermos em consideração que a então derrota dos exércitos nazis de Hitler significou o travão final nos desejos expansionistas da Alemanha em toda a Europa e principalmente a leste, o seu "espaço vital", como Hitler gostava de dizer. O final da II Guerra Mundial significou também o surgimento de uma nova superpotência, a então União Soviética, país que teve um papel decisivo e determinante no desbaratar das hostes nazis, sobretudo a partir da célebre Batalha de Estalinegrado, momento significativo de viragem da guerra a favor dos Aliados e no seguimento do qual o almirante alemão, Friedrich Paulus, se rendeu incondicionalmente aos soviéticos juntamente com 200.000 dos seus homens.

 

A Batalha de Berlim, travada entre o imparável colosso militar soviético e o que restava do outrora máquina de triturar países e nações de Hitler, não foi somente a última e derradeira batalha entre dois exércitos que se degladiaram e mutuamente se exterminaram durante cerca de quatro anos, ela foi igualmente o confronto entre dois sistemas económicos sociais e políticos que entre si se odiavam e que levaram até às últimas consequências os seus conceitos de expansionismo e geopolítica.

 

Antony Beevor, o também já autor do famoso livro Estalinegrado, dá-nos nesta espantosa e incrível obra, "A Queda de Berlim", uma visão tanto quanto precisa e histórica do que foi a famosa Batalha de Berlim, socorrendo-se de novos documentos entretanto disponíveis para investigação após a queda da União Soviética, não se limitando somente a analizar as questões de ordem militar das facções em disputa, mas colocando igualmente a descoberto os inúmeros dramas, perseguições, ódios e excessos cometidos incontroladamente por ambos os lados.

 

Para quem necessitar de conhecer o passado para melhor entender o actual presente... a não perder.

 

 

(A Queda de BERLIM - 1945   -   Antony Beevor - Bertrand Editora)

 

 

Os madeireiros da Sibéria

Conta-se como anedota que os madeireiros que durante seis meses cortavam madeira na Sibéria, quando por lá andavam desterrados só falavam uns com os outros de mulheres. De regresso a casa, e durante os seis meses seguintes, com as suas respectivas esposas só falavam de madeira. Vem isto a propósito da decisão da Comissão Europeia de há anos atrás, e perante o que dizia ser um excesso de vinho produzido pelos países que integravam a Comunidade Europeia, ter subsidiado com milhões de euros o arranque de videiras, com os agricultores portugueses naturalmente a comerem por tabela. Há uns dias a esta parte, veio a Comissão dizer agora que existe um déficit de vinho na Comunidade e, claro, vai voltar a subsidiar... mas desta vez o plantio de mais videiras.

 

O Governo de Passos Coelho e Paulo Portas mal subiu ao poder, e perante o galopante crescimento do desemprego entre toda a população e principalmente entre os jovens, não esteve com meias medidas e mandou a população passear. "Emigrem!", disseram eles. E foram aos milhares aqueles que emigraram, como já se não via em Portugal desde a década de 60 do século passado. Agora, com eleições legislativas à porta, Passos Coelho e Paulo Portas criaram o Programa VEM, para incentivar o regresso a Portugal dos que daqui sairam para fugir à fome e à procura de emprego, empurrados todos pelo "emigrem!" de Passos Coelho.

 

Com a sua desastrosa política de austeridade, o Governo PSD/CDS-PP encaminhou milhões de portugueses para a pobreza, destruiu a classe média, desestruturou as famílias através do desemprego, desincentivou os jovens a casarem e a terem filhos, levando a taxa de natalidade em Portugal a atingir perigosamente níveis nunca vistos, sendo actualmente a mais baixa da Comunidade Europeia. Em época de eleições, vem agora o Governo propor uma carrada de medidas para incentivar a natalidade... natalidade que até aqui andou a destruir!...

 

Mas que vida estranha esta a dos madeireiros da Sibéria!...

 

 

O senhor Direito e a dona Caridadesinha

O senhor Direito era uma pessoa cosmopolita e simpática e perfeito respeitador dos seus deveres e obrigações. Quem o conhecia sabia perfeitamente que ele não dava baldas no tocante aos seus principais compromissos, embora também fosse bastante exigente em tudo que se referia ao que lhe era devido. Por exemplo, se comprava um litro de leite no supermercado com o preço marcado de 0,58 € e a menina da caixa lhe cobrava 0,60 €, não tinha problema nenhum em vir de novo atrás e exigir o troco respectivo, uma autêntica ninharia... mas que era seu. O mesmo acontecia com a recolha do lixo lá na terra, pois sempre pontualmente pagou a taxa correspondente, embora a recolha havia semanas que por vezes não se fazia. Claro que ia de imediato aos serviços camarários e fazia uma reclamação por escrito, quando não se lembrava de armar logo uma bronca na assembleia municipal seguinte. Um dia o senhor Direito descobriu que à filha de uma vizinha sua que vivia com muitas dificuldades não lhe tinham atribuído subsídio de almoço lá na Escola, mas o filho de uma família que vivia muito bem e que até fazia questão de dar nas vistas com um grande carrão novo de grande cilindrada, esse já tinha direito a almoço subsidiado. Claro que o senhor Direito nem quis ouvir mais nada e foi com a sua vizinha falar ao manda chuva do serviço lá do sítio e exigiu que a situação dela fosse revista... e a injustiça colmatada. O senhor Direito era mesmo assim... como com os deveres, os direitos são para ser cumpridos!...

 

A dona Caridadesinha apresentava-se como uma pessoa mansa, mas era sempre muito esperta, não gostando nada que lhe sugerissem ter que se fazer cumprir isto ou aquilo, ofendendo-se muito quando lhe falavam sobre política. "Não sou política", dizia. Segundo ela, bastava o apelo à bondade das pessoas e o bater à porta certa para que o mundo rolasse, ganhando ela alguma coisa com isso. Se alguém lhe dissesse que centenas de famílias estavam desempregadas, com vários filhos a seu cargo e a viverem sem nenhuma dignidade, arrematava logo que iria urgentemente à Junta de Freguesia ou à Câmara e pediria educadamente uns sacos de comida para matar a fome aos infelizes, ou então iria pedir, muito humildemente, por carta registada com aviso de recepção, a Sua Excelência o Senhor Ministro da Solidariedade e Segurança Social para encarecidamente deitar as mãos à consciência e mandar abrir, se possível, mais uma cantina para a "sopa dos pobres". Claro que o que fazia iria ser muito bem divulgado, aparecer nas noticías dos principais jornais, na TV e, muito principalmente, nas redes sociais, mas nada de confrontar ou denunciar o poder constituído com o escândalo da situação, pois isso poderia deitar a perder o seu secreto objectivo de ser promovida para algum futuro lugar notório... e bem remunerado. Se algum desgraçado ficava sem casa e vivia ao relento na rua, por ter sido despedido sem justa causa, nada como mexer os cordelinhos e, sem criar ondas nem denunciar os verdadeiros culpados, apelar publicamente à bondade das pessoas, ficando ela como a verdadeira heroína... e na calha para futuras promoções camarárias ou governamentais!...

 

 

Dona Caridadesinha nunca dará na vida ponto sem nó, ela ha-de chegar lá acima custe o que custar, doa a quem doer, contra tudo e contra todos... sempre eleitoralmente aclamada pelos imensos, pacíficos e pacatos pobresinhos!...

 

 

O incrível milagre da multiplicação do cabelo

Por vezes chego a pensar que o mundo bem poderia ser divido entre aqueles que acreditam em milagres e aqueles que não acreditam. Eu por mim quero acreditar que os milagres existem e que nada pode ser assim tão sem graça que estejemos todos condenados a viver uma vida sempre da mesma maneira e que o nosso futuro esteja já traçado desde o dia em que nascemos, sem outra coisa que possamos acrescentar ou sequer sonhar. Para mim a vida sem espaço para o sonho e sem milagres não merece ser vivida e o importante é acreditar que o impossível por vezes é possível. Quantas vezes na vida já não vimos concretizados objectivos que tempos atrás julgávamos inatingíveis, por mais pequenos que fossem? Acabar um curso, mudar de casa, tirar a carta de condução, viajar para um determinado destino, ou outros mais simples, como mudar o visual, comprar um fato de determinada marca ou então fazer nascer cabelo que já falta ou vai rareando, eis alguns grandes/pequenos "milagres" bem possíveis.

 

Desde há vários anos que venho lavando o meu cabelo com champôs caros e aplicando produtos anti-queda para tentar preservar a minha farta cabeleira. Depois de anos e anos de tratamento e uma nota preta desbaratada, o "milagre" esperado não se deu e comecei a sentir que teria de fazer alguma coisa para tentar travar a clareira que perigosamente persistia em alastrar. Então, num daqueles momentos que nos marcam para sempre, decidi apostar no champô XPTO, muito mais barato, e deixei de aplicar no cabelo os caríssimos produtos anti-queda. Há uns meses, sem contar, e depois de lhe ter pedido para não deixar demasiado a descoberto a minha falha capilar, o meu inteligente e simpático barbeiro confiou-me que já mais de um cliente lhe dissera que o champô XPTO lhes fizera crescer mais cabelo na parte posta a descoberto. Mandei-me logo ao ar de contente, pois aquele passara a ser precisamente o meu champô de eleição. Há dias a minha esposa confirmou-me alegremente que eu tinha mais cabelo na antiga clareira e eu só posso humildemente acreditar que tenha sido mais um milagre na minha vida... um milagre chamado XPTO.

 

É claro que eu sei bem que vocês estão todos à espera mas eu não vou aqui revelar a marca do champô milagroso, pois isso representaria muitos milhares em publicidade que eu duvido que alguem esteja com vontade de me pagar. A excepção que eu talvez abrisse, mas teria que ser ele a pedir-me, seria ao nosso elegantérrimo Primeiro Ministro Passos Coelho, pois a sua boa e jovial figura se apresenta hoje muito diminuída com a cada vez mais alarmante clareira que o consome, para mais ainda com importantíssimas eleições à porta.

 

 

O meu avô velhinho também usava GPS

Todos nós já tivemos um avô ou uma avó velhinhos e que nos deixaram boas recordações e ensinamentos e até, em alguns casos, autênticas lições de modernidade e juventude cerebral, como foi o meu caso. Tinha eu sete ou oito anos e o meu avô velhinho, um senhor baixo e magro mas duro e brincalhão, como bom duriense de S. João da Pesqueira, veio ao Porto ver o filho, meu pai, sem esquecer a nora e netos. Eu, como o neto mais velho, tive a sorte de o acompanhar em algumas das suas escapadelas cá por baixo, e uma delas era, sempre que cá vinha, descer à Ribeira, no Porto, e comer nas tascas da zona os petiscos da ocasião, um dos quais as famosas iscas de bacalhau, ou pataniscas do mesmo. E então, nessas alturas, sabendo eu como ele era divertido e todo conversas, pedia-lhe: "ò Vô conte aquela do rapé", e então ele lá contava que um senhor se dirigiu a uma tabacaria e perguntou se tinham tabaco, respondendo o dono da tabacaria que não tinham tabaco, só rapé. E que então o senhor logo respondeu "ora, e rapé tabaco é". Dito isto, o meu avô velhinho escaganifava-se todo de riso... e eu, todo contagiado, também. Outra que o meu avô velhino muito usava quando eu lhe lhe perguntava se sabia o caminho para determinado local, quando iamos a algum lado, era de que... "quem tem boca vai a Roma", ditado que pessoalmente sempre adoptei, em memória de meu saudoso e divertido avô velhinho e que se tornou no meu eficiente e infalível... GPS.

 

Já não foi a primeira vez que me desloquei a vários locais com gente amiga e tecnologicamente evoluída, levando eles como localizador o famoso e imparável GPS. Resultado: o GPS dizia-nos que o destino era já ali, mas afinal ficava uns quilómetros mais abaixo, indicava virar à direita quando se devia virar era à esquerda e, no fim, era certo que chegavamos sempre atrasados relativamente à hora marcada, por vezes por mais de duas horas. Hoje, mais uma vez, precisei de ir a uma dessas terras distantes e de difícil localização. Saí de casa cedo e bem disposto e aproximei-me o mais possível da região. Já na localidade, parei o carro num café, liguei, como sempre, o meu GPS bocal (quem tem boca vai a Roma) e perguntei à senhora onde ficava o sitio tal e tal. Depois de obtida a resposta, entrei de novo no carro e fui lá ter direitinho... vinte e cinco minutos antes da hora marcada.

 

Modernices à parte, não me venham com "estórias" sobre o nosso irremediável atraso digital, pois que o meu avô velhinho já naquele tempo usava GPS... e dos que funcionam mesmo!...

 

 

Se um dia tiver que ser pobre compro um Mercedes

Um dia um mecânico de automóveis meu conhecido, com oficina no Porto, ali para os lados do Amial, saiu-se com esta de que "o Mercedes é o carro dos pobres". Carago!... como é que o Mercedes é o carro dos pobres?...perguntei-lhe eu. E então ele lá me explicou: o Mercedes quase nunca avaria e as peças de origem duram que se farta. Como a mecânica é eficiente e simples, as eventuais reparações necessárias gastam menos mão-de-obra que os outros carros. A acrescentar a tudo isto, disse ele, compras um Mercedes e tens carro para vinte e tal anos ou mais, enquando as outras marcas, a partir dos quatro anos, já te começam a dar problemas. Como vês, disse-me ele, é um carro para quem tem pouco dinheiro. Fiquei a pensar no assunto e, nisto, veio-me à lembrança uma outra conversa que tinha tido há anos com um antigo motorista de taxis e que conduzira durante muitos anos os célebres Mercedes 180 e 190. Dizia-me ele: fazes um milhão de quilómetros com um Mercedes sem necessidade de abrir o motor e, quando o abrires, mudas os segmentos, rectificas as camisas, rodas as válvulas e... metes-lhe em cima outro milhão.

 

E foi precisamente por isso que entendi perfeitamente a aversão e o escândalo que fez, aqui há uns tempos, Francisco Assis, do PS, em pensar sequer na possibilidade de ter que comprar carros da marca Renault Clio para o Grupo Parlamentar do seu Partido, já que lhe reprovaram publica e acintosamente a compra dos eficientes Mercedes. É que está mais que visto que o pessoal que anda para aí provocadora e espalhafatosamente de Clio, como é o meu caso (e aqui dou o meu braço a torcer), é precisamente aquele que viveu durante anos a esbanjar e muito acima das suas possibilidades, pois de outro modo não compraria um "carro para ricos" e com gastos que se farta em manutenção e revisões. Ao comprar Mercedes para o seu Grupo Parlamentar, o PS e São Francisco de Assis, desculpem, Francisco Assis, se algumas dúvidas houvessem, separaram definitivamente as águas: sendo o PS um Partido popular e do povo... só Mercedes, o "carro dos pobres".

 

Se um dia o azar ou a má sorte me atirarem miseravelmente para a mó de baixo, por favor, nunca esquecer... automóveis só Mercedes!...

 

 

De domingo de Ramos a segunda-feira de Páscoa

Já lá vão uns anitos em que o período da Páscoa não passava de duas ou três novidades a mais nas nossas vidas e tudo o resto se resumia à mesma calmaria e pasmaceira do costume. No domingo anterior à Páscoa, domingo de Ramos, lá andavam os miúdos e miúdas todos bonitinhos, de fatinho ou vestido bem limpinhos, pela rua fóra e com os raminhos destinados às madrinhas e padrinhos. Não me lembro de ter andado nas mesmas poses, mas não descarto a possibilidade de me terem então cantado nessa altura a necessidade de tal deambulação demonstratória da nossa lembrança e dedicação aos que cá estavam, em caso de necessidade, em vez dos nossos pais e mães. O dia de Páscoa já era mais movimentado e interessante para nós, pois a mesa já era posta de outra forma e era certo que o almoço desse dia não passava sem um bom assado de cabrito, levado ao ponto no forno a lenha da padaria mais próxima. Claro que o dia não começava assim tão interessante, pois antes teriamos que ir à missa no Seminário dos Padres Redentoristas e, de seguida, e ainda antes de afinfar com faca e garfo nas suculentas e bem louras batatas assadas, teriamos que esperar pela nesse dia sempre presente campaínha do Compasso e beijar devidamente, sob pena de excomunhão assegurada, os pés do Senhor na respectiva cruz. De dar a nota ou moedinhas obrigatórias ao manda-chuva do Compasso lá cuidavam o meu pai ou a minha mãe, e era se queriam, pois naqueles tempos os putos não eram fartos de algibeira como agora.

 

Hoje em dia as coisas estão mais democratizadas e assiste e recebe o Compasso quem quer, sem perigo algum de fazer parte de alguma Lista VIP de insubordinados a excomungar por não se ter estado presente à celebração da Ressurreição do Senhor. É claro que o pessoal hoje em dia anda muito mais expansivo e nervoso com toda esta azáfama da Páscoa, pois há que colocar as malas no carro e carregar no prego urgentemente para o Algarve, sem antes esquecer de comprar o Pão de Ló do Pingo Doce que, não sendo igual ao de Margaride, não lhe fica longe e o preço então é de arrazar. Convem ainda não esquecer de aproveitar e comprar lá também o de ovos moles, coisa digna de um manjar dos deuses, sem necessidade nenhuma de se ter de fazer fila nas estreitas entradas de Ovar.

 

Hoje de manhã, certamente por ir nas pressas para a fila do camarão e da cerveja, no Jumbo, um desses putos com o bonésinho virado ao contrário quase que me destroçava o carro com uma manobra de ultrapassagem ultra-perigosa. Meu Deus, quase que ia desta!... e vá lá, ainda me safei de uma outra muito boa, pois quando ía a entrar na auto-estrada, no Nó do Fojo, quem vai para o Porto, ainda fui a tempo de conseguir evitar entrar na mesma, já que as três faixas da dita Avenida dos Hipermercados se encontravam totalmente superlotadas e, muito melhor, completamente paralizadas. Eram duas ou três horas a "bronzear" ao sol, pela certa, dentro do carro... muito longe do Algarve!... concluí, depois de toda estas "pressões" inusitadas, que no tempo das lourinhas batatas assadas da minha rica mãesinha era tudo um pouco mais calminho. Ufa!...

 

PÁSCOA FELIZ!...

  

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