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russomanias

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Os Miseráveis

Como será possível alguém poder vir dizer "nós também poderiamos ter tido um bom resultado eleitoral, mas não quisemos", ou então "também poderiamos ter tido um candidato ganhador, mas não estivemos para aí virados"? Será isto possível? Em Portugal pelos vistos é, ou melhor, foi. Pois foi precisamento isto o que aconteceu quando Jerónimo de Sousa, no final do dia das eleições presidenciais, e após um estrondoso insucesso eleitoral, veio muito marialvamente dizer que "nós também podiamos arranjar uma candidata engraçadinha", que é como quem diz, e traduzido à letra, "essa arma também nós a tinhamos no nosso arsenal de batalha, mas, como somos púdicos, não a quisemos utilizar", conclusão interpretativa do que devem ser os "argumentos" de uma campanha eleitoral que não deixa de ser incrível nos dias de hoje.

 

Para Jerónimo de Sousa, pelos vistos, e por tudo aquilo que conhecemos do seu partido, um candidato deve ser da máxima confiança do colectivo que o propõe, deve ser honesto, dedicado à causa revolucionária, seguidor dos ideais progressistas e implacavelmente cumpridor das orientações do partido. Se por acaso possuir tudo isso mas acumular com esses dons o facto de ser "engraçadinho" ou "engraçadinha", então aí as coisas podem complicar-se e já não vir a ser o "eleito", o "escolhido". A ser assim, para Jerónimo de Sousa ou és uma Odete Santos ou não vais lá. Mas, podemos nós perguntar, que mal tem em escolher-se um candidato que possui todas aquelas "qualidades" e que, a acrescentar a essas,  ainda lhe juntamos a valorativa e imprescindível fealdade? Não tem mal nenhum, cada qual coze-se com as linhas que tem, ainda por cima nos dias de hoje. O que não pode depois é vir dizer-se que tambem tinhamos um "jeitoso" ou uma "jeitosa" na manga para conseguir um bom resultado eleitoral mas que somente o não fizemos porque congenitamente desconfiamos de todos os candidatos ou candidatas que sejam apresentáveis, engraçados, bonitosbelos ou séxis, porque, se o fizermos, ou somos uns miseráveis ou somos muito burros... e, logo, não teremos de que nos queixar.

 

A sociedade insabida e chapa cinco do "forte e feio" e do "homem novo" caiu com os escombros do Muro de Berlim... mas, pelos vistos, nem todos o viram ainda.

 

 

"Case-study"

Não o podemos negar, a vitória de Marcelo foi estrondosa. Tão estrondosa que não faltaram logo aqueles que viram no fenómeno um verdadeiro "case-study", que é como quem diz, um caso verdadeiramente digno de ser dissecado e estudado nas mais proeminentes catedrais do conhecimento, numa Cambridge ou numa Harvard. Compreende-se esta estupefacção. O homem pegou numas sandes, alugou um taxi e bateu em todas as portas que interiormente achava que devia bater, não se esquecendo até, como acto preparatório, de dar uma saltadinha à Festa do Avante e... zás!... há que calcorrear o país de alto a baixo a lembrar que... cá está o Marcelo, como vos havia prometido!... não precisou, diz ele, do PSD e do CDS para nada, agradecendo até que não lhe aparecessem com o bandeirame e com as setas a estragar o circuito. E lá foi ele, beijinho aqui, trincando pastelinho acolá, sem muita onda... mas, de facto, com uma estrondosa vitória.

 

Assim como me ri bastante aqui há uns tempos quando li nos jornais que "os cientistas descobriram" que as pessoas divertidas e que se riem com prazer têm fortes probabilidades de viver mais tempo que as restantes, facto saloio para o qual já a minha querida e santa avósinha me tinha alertado era eu ainda miúdo, também o terem agora concluído os "doutores" do costume que a vitória de Marcelo nas presidênciais é um verdadeiro "case-study" não me pode deixar mais em desacordo. É que, como alguma gente sabe, nas Escolas e Universidades há sempre três tipos de alunos: os que não estudam, os que só estudam dois ou três dias antes dos exames e... os que estudam todos os dias quer tenham exames ou não. Os primeiros geralmente abandonam os estudos ou tiram más notas, os segundos ora passam ora não passam e, os terceiros, geralmente passam sempre com boas notas e podem até chegar a... catedráticos. Ora o Marcelo, e quem o ouvia sabe disso perfeitamente, sempre disse que foi um aluno que marrava todos os dias e que sabia a matéria dos exames "sempre na ponta da língua". Está-se mesmo a ver... os outros candidatos presidenciais só estudaram nas vésperas do dia do exame, mas Marcelo não, esperto, já se vinha preparando há muito tempo, tinha a lição muito bem estudada.

 

Por isso, não me venham cá com essa esquisitice do "case-study". O que aconteceu com Marcelo foi bem mais simples, pois ele, ao contrário dos outros... sabia-a toda!...

 

 

Por uma questão de coerência

Qualquer português capaz de ler e entender meia dúzia de artigos da Constituição apercebe-se de imediato que os poderes de um Presidente da República no nosso país são bastante limitados e que o poder efectivo se concentra antes no orgão Assembleia da República, isto é, nas maiorias constituídas a partir da vontade dos deputados eleitos através dos partidos. O poder para constituir um novo governo não deriva, pois, do Presidente da República, do partido mais votado ou de qualquer outro dispositivo mais ou menos discricionário. O poder efectivo é constituído a partir da vontade da maioria dos deputados eleitos, pertençam eles a que tipo de partidos pertencerem, sejam eles da esquerda ou da direita. E foi precisamente assim que aconteceu nas últimas eleições legislativas, dado que a tão falada democracia não existe só para quem quase sempre habitualmente faz a festa, mas igualmente para quem historicamente costuma apanhar as canas.

 

É pois certo que o Presidente da República não governa, ao contrário do que por vezes se houve dizer nas ruas aos candidatos ao cargo, de que vão "fazer" isto e aquilo, de que vão "mudar" isto e mais aquilo. A verdade é que não vão "fazer" nada nem "mudar" nada, pois não têm poderes para isso, mas podem na verdade "influir" e até puxar de vez em quando as orelhas ao governo em situações de grande interesse nacional. Por conseguinte, e tendo em conta a actual maioria constituída na Assembleia da República, qual o interesse em votar em candidatos presidenciais que representam o projecto minoritário derrotado e que governou desastrosamente o país nos últimos quatro anos? O interesse não é nenhum. Logo, e por uma questão de coerência de interesses e objectivos, a maioria dos portugueses só têm a ganhar se para a presidência da república for eleito alguém identificado com a nova esperança que o país atravessa. Identificado com ela... mas também predisposto e decidido a "influir" diariamente para que a mesma se concretize.

 

Isto até dá para rir...

No próximo domingo vamos eleger um Presidente da República ou um "catavento"? Por incrível que possa parecer, as figuras hirtas e ditas sérias deste país preferem contentar-se, à falta de melhor sorte coitados, com um conhecidíssimo "catavento", ao passo que a restante e multifacetada ralé pelos vistos aposta em eleger um verdadeiro Presidente. Nem dá para acreditar que aquelas claques todas cinzentas, chiques e supostamente meias brasonadas se tenham de contentar com um candidato todo "fala-barato", também dito "espalha-brasas" ou, ainda mais comesinhamente, "espanta-pardais", qualificativos populares muito aproximados do famoso "catavento" de Passos Coelho. Mas então, que se passa? A direita já não consegue mobilizar gente verdamente séria e fiável que prestigie a classe e seja o espelho da grandeza, conhecimento e cultura dos senhores "donos disto tudo"? Seja lá o que for que tenha acontecido, a realidade porém é que os principais meios de comunicação, nomeadamente os canais de televisão privados, apostaram no passado e apostam ainda hoje na promoção do irrequieto "catavento" como principal figura do Estado.

 

Pode-se muito simplesmente perguntar se não seria bem melhor para Portugal eleger um verdadeiro Presidente da República em vez de uma geringonça hiperactiva e barulhenta que pode muito bem decidir andar por aí a telefonar a toda a gente de noite e de dia, cá dentro e lá para fóra, armando constantemente confusão e não deixando ninguem em paz e sossego? Para os portugueses sem dúvida que seria bem melhor eleger um Presidente da República a sério, que interviesse sempre que necessário fosse para a defesa da Constituição e dos reais interesses do país, tanto cá dentro como no estrangeiro, desapegado de interesses de grupos e de personalidades duvidosas, o que não sucedeu com o presidente que acaba agora o seu mandato. Se tal acontecer, o que irá depois fazer o nosso famoso e hiperactivo "catavento"? Pela última "boca" do candidato na sua deslocação à Madeira, não me admirava mesmo mada que acrescentasse mais um campo de interesse à sua já vasta galeria e se tornasse um dedicado e prolixo "cicerone" no emblemático Museu CR7 no Funchal.

 

Isto até dá para rir...

 

O meu Presidente

Como na Feira da Vandoma, temos candidatos a Presidente da República para todas as formas e feitios. Ao todo são dez aqueles que nos tentam convencer da sua boa vontade e disposição para contribuir para uma verdadeira mudança no país. Claro que todos eles nos dizem que é sem qualquer interesse pessoal que se candidatam ao cargo de maior prestígio da nação, que não vieram atrás de privilégios nem tampouco de honrarias, havendo até um (Marcelo) que diz que concorreu a Belém para, além do mais (e neste mais é que está o verdadeiro segredo da sua candidatura)... "devolver ao país tudo aquilo que Portugal lhe deu". Comovente, não é? Mas, afinal, que raio terá dado assim de tão importante o país a Marcelo? Quanto mais não fosse, deu-lhe certamente contactos privilegiados com vários dos "grandes" deste país, políticos, empresários e banqueiros do seu partido que contribuiram decisivamente para os maiores escândalos e os maiores roubos, trapaças e fraudes a que temos assistido nestes últimos anos, nomeadamente os do BPN e do BES. Deu-lhe igualmente publicidade gratuita na TV durante dezenas de anos, o que lhe vem agora permitir que ele, Marcelo, ao contrário dos outros, por sinal todos uns "gastadores", venha agora dizer que sensatamente decidiu dispender pouquíssimo na sua campanha eleitoral. Pudera... tudo à borla!...

 

Assim, posso até votar no Sampaio da Nóvoa, embora não vá lá muito com aquela cara de personagem de Goya, como já alguém disse, ou até no Edgar Silva, embora também não engula muito a desenxabida "missa" dele, ou até na Maria de Belém, com aquela imagem de virgem santa imaculada; posso até descair-me, absorto e distraído, no inacreditavelmente, para os dias de hoje, incorrupto Paulo Morais, ou até no penafidelense Tino de Rans, de terrinha de boa pinga e de muito bom presunto; posso até votar, como já disse, em qualquer um destes "entretainers", mas votar no pantomineiro e dessimulado Marcelo é que não, pois ando já há demasiados anos a pagar bilhetes para ver este filme, mais vezes que o que paguei para ver o "Casablanca", este sim, com actores de nível... já chega!...

 

 

Ano novo... novas esperanças

É já um constante lugar comum esperar que um novo ano nos traga notícias e momentos bem melhores que o ano que nos acabou de terminar. A vida compõe-se de subidas e descidas, sucessos e insucessos, decepções e novos sonhos. Então porque não sonhar, porque não acreditar que algo mais lá para a frente irá melhorar e dar-nos razões de contentamento e satisfação, porventura não inteiramente alcançadas no ano que findou? Haverá quem pense que as coisas continuarão de mal para pior, que nada vai mudar e piorar será seguramente o resultado mais que provável. Contudo, uma visão tão pessimista da vida não nos trará, de todo, as defesas necessárias para enfrentar o novo ano com a determinação capaz de nos contemplar com novos avanços e vitórias nos objectivos, escritos ou pensados, a que nos propusemos no decorrer da nossa caminhada.

 

Assim, porque não partirmos antes do motivante princípio que à nossa frente novamente se fará luz, que das escuridões passadas já não rezará mais a história e que a determinação posta na concretização das nossas decisões é que garantirá o nosso bom rumo e os nossos sucessos futuros? Dirão alguns que neste clima de pessimismo e elevadas incertezas em que vivemos não é nada fácil estar confiante e acreditar em novas e positivas mudanças. Até pode ser que assim seja, mas assim como dos fracos não reza a história, também dos descrentes no futuro não nascerão boas realizações e muito menos os resultados serão satisfatórios. E como fazer as coisas bem ou mal dá o mesmo trabalho, sendo que o que se vê não é o mesmo, porque não acreditarmos que daqui para a frente algo irá mudar para melhor, já que para pior já basta assim?