Todo o empresário tem os seus princípios, e o bom empresário português também os tem. Ao seguir estes conselhos o sucesso da sua empresa está garantido e o retorno do seu investimento será um êxito. Não invente o que já está inventado, limite-se a copiar.
1)Empresário português que se preze não admite ninguém ao seu serviço com mais habilitações que ele próprio. Isso seria um perigo de morte para a sua empresa e uma desconsideração à sua pessoa;
2)Se, por objectivos estratégicos, tiver que admitir um empregado que saiba mais que ele próprio, o empresário português trata de sacar, tão rápido quanto possível, os conhecimentos desse seu empregado para si próprio ou para alguém da sua família, preparando assim o caminho para colocar, o mais depressinha que seja possível, esse empregado no olho da rua;
3)Nunca pagar os ordenados dos seus empregados com descontos por inteiro para a Segurança Social é outro dos princípios a ter em conta pelo bom empresário português, medida que representará uns bons milhares de euros a mais no final do ano;
4)Se algum dos clientes do empresário português elogiar, sob qualquer forma, a postura e os conhecimentos de algum dos seus empregados, muito cuidado! Deve despachar-se urgentemente esse empregado pela porta fora, pois tal facto pode realçar a mediania dos restantes colaboradores e da própria empresa, para além de representar um desafio à autoridade esclerosada da própria gerência;
5)Não despedir um bom colaborador só porque inexiste a chamada "justa causa" é um erro crasso que deve ser evitado. Com a ajuda e o testemunho falsificado de colaboradores medianos a "justa causa" inventa-se, quer simulando-se um roubo inexistente, quer armadilhando-se uma situação de pseudo não cumprimento das regras de higiene e segurança, para além de muitas outras;
6)Quando um bom colaborador com provas dadas não possa ser mais espremido, propõe-se-lhe (obriga-se!...) que passe a trabalhar para a empresa como "trabalhador independente" a recibos verdes, sendo os ganhos desta opção elevadíssimos: o colaborador passará a trabalhar mais, com receio de ser depedido, deixarão de ser feitos descontos para a Segurança Social pela entidade patronal, e até se poderá deixar de pagar ao colaborador no final do mês com o argumento de que os clientes estão com dificuldades;
7)Para melhor poder controlar os seus colaboradores, o bom empreendedor português deve montar na sua empresa uma boa estrutura de espionagem, tipo CIA ou KGB. O objectivo é saber o dia-a-dia de cada colaborador, se paga renda de casa ou prestação ao Banco, onde trabalha a mulher e quanto ganha, quantos filhos tem, qual a marca do carro, se tem dívidas e a quem. Qual o objectivo de todas estas informações?... sem dúvida que só poderá ser o enquadramento de cada trabalhador e saber-se como e em que altura se deverá lançar-se-lhe a corda ao pescoço;
8)Quando um dos clientes da empresa pretender uma prestação de serviço no estrangeiro, paga a peso de ouro, nunca permita que um bom técnico da empresa seja encaminhado para responder à solicitação do cliente. Mesmo que nada percebam do assunto, será o bom empresário português e a sua família que farão essa viagem e procurarão divertir-se o mais possível, mesmo que o cliente fique insatisfeito. Lugar de técnico é na empresa... viajar está fora das suas competências;
9)Quando um colaborador da empresa não estiver mais para o aturar e lhe bater com a porta na cara, muita atenção!... ele não se foi embora, quem o despediu foi você!...
10)Seguindo o bom empresário português esta cartilha e, mesmo assim, a empresa não der lucro, só lhe restará duas opções: a) reforçar a dose atrás exposta; b) em vez de colaboradores, contratar CVs*.
APPARATCHIK - (em russo: aппара́тчик) - Palavra derivada do russo e que era costume aplicar-se aos funcionários a tempo inteiro do antigo Partido Comunista da União Soviética. No fundo, designava um alto burocrata com elevadas responsabilidades administrativas ou políticas. O termo generalizou-se no Ocidente e, como tal, também encontramos às dezenas, ou até às centenas, os apparatchiks em Portugal. Eles são exímios em levar até ao último detalhe a execução das tarefas que lhes são distribuídas pelo aparelho partidário, mesmo que da matéria em causa não percebam nada nem tenham tido qualquer tipo de formação sobre o assunto. O importante é cumprir a "tarefa" a qualquer preço e atingir os números determinados pelos patrões do partido, geralmente para efeitos de pura estatística eleitoral. Especialistas na engrenagem das máquinas partidárias, sabem de tudo sem saberem especificamente de nada.
Todos os dias vemos os ditos apparatchiks aparecerem nos ecrãns das nossas TVs, ora como secretários de estado, líderes parlamentares, porta-vozes dos partidos, ora como dirigentes das juventudes, comentadores políticos ao serviço dos objectivos do aparelho partidário. Um apparatchik não pensa, executa. Um apparatchik não tem ideologia, tem como objectivo a chegada do partido ao poder. Um apparatchik não terá nunca contemplações para com ninguém... pessoalmente quer influenciar, controlar e dominar tudo e todos, para benefício do seu partido e seu próprio benefício pessoal.
Cada vez me parece mais que vários caminhos se nos deparam para atingir a grandeza como país e multiplas as armas a utilizar para o efeito. Veja-se o caso da Alemanha, arrasada no final da II Guerra mundial e agora, sem tanques nem canhões, dá cartas em poderio económico aos que a venceram e vomita leis e imposições por toda a Europa.
Contava-me meu pai, emigrante em França, que havia lá, em Gerzat, Clermont Ferrand, uma emigrante portuguesa, empregada doméstica, que punha a cabeça dos patrões a andar à roda sempre que se negava a fazer-lhes os famosos bolinhos de bacalhau à moda de Portugal. Os patrões dessa portuguesa ficavam tão extasiados e passados da placa quando ela os fazia que, mal ela acabava de fazer a massa e se preparava para os fritar, vinham por detrás dela e comiam-lhe a massa toda, em fresco, tendo a pobre coitada da portuguesa de fazer nova massa para poder haver nesse dia os ditos bolinhos, mas fritos, como devem ser. Então, contava meu pai, o poder dessa portuguesa sobre os patrões era tal que, se eles queriam comer os tão desejados bolinhos de bacalhau portugueses, teriam de andar atrás da empregada vários dias seguidos, pedindo-lhe e pedindo-lhe, quase de joelhos... "Maria, faz-nos bolinhos de bacalhau, fazes?... Maria, faz bolinhos de bacalhau... s'ill vous plait, s'ill vous plait". Essa empregada doméstica portuguesa tinha os patrões franceses na mão e eles piavam fininho com ela, senão... senão não haveria bolinhos de bacalhau para ninguém!... e isso é verdadeiro poder.
Agora, juntemos os bolinhos de bacalhau aos pasteis de nata, que já conquistaram também ingleses e franceses. Mas Portugal não tem só essas "armas", tem muitas mais, centenas delas. Será que os alemães conseguiriam efectivamente resistir por muito tempo a um bom presunto de Chaves e a um suculento queijo da Serra da Estrela, regados com um tinto Barca Velha?... tenho muitas dúvidas. Os próprios americanos, que andam já a ser vergados pela espinha, aos milhares, na rota duriense do Vinho do Porto, através da empresa de turismo Douro Azul, não tarda nada, mas isto só se nós quisermos, se prostarão aos nossos pés.
Que estamos então nós portugueses à espera para nos tornarmos numa potência mundial, verdadeiros novos senhores do mundo?
"Armas" secretas não nos faltam: ainda temos os ovos moles de Aveiro, os jesuítas de Santo Tirso, as bifanas do Conga, o bacalhau à Brás, o cozido à portuguesa, o leitão da Bairrada, as tripas à moda do Porto, o pão-de-ló de Arouca, o azeite Gallo, os tintos alentejano e do Dão, os choquinos com tinta, a ginginha com elas, os jaquinzinhos fritos, a sardinha assada, o pudim Abade de Priscos, o figado de cebolada, as iscas de bacalhau, os rissóis de leitão, as tripas enfarinhadas, o frango de cabidela, os rojões à moda do Minho, os couratos, os torresmos, o arroz de sarrabulho, o toucinho do céu, o pastel mil folhas, a letria, as rabanadas, o bolo rei, o licor Beirão, a aguardente de medronho, o Mateus Rosé, enfim, não me chegariam 100 gigas de memória para armazenar o autêntico arsenal de iguarias com possibilidade de vergar, a ferro e fogo, a Europa e o Mundo.
De que estamos pois à espera para desenvolver esta nossa veia de conquistadores que nos foi incutida pelos nossos avós de quinhentos?
O mundo que se cuide... bolinhos de bacalhau ao poder!...
AMNISTIA - Amistia é um perdão concedido pelos governos, com o beneplácito da Assembleia Legislativa, a determinados indivíduos e relativamente a certos delitos. Mas então, dir-me-ão, alguém comete uma infração tipificada na lei como crime e perdoa-se assim sem mais nem menos? Ainda por cima, aparecendo as amnistias de tempos a tempos, e não todos os anos, porque raio de razão uns pagam pelo que fizeram e outros não?... onde pára então o tão propalado princípio da igualdade?... é a vida!... e felizardos se sentem aqueles que prevaricaram e contas à Justiça nem vê-la!
Mas só superficialmente as coisas se passam assim, pois a toda a hora vemos nos jornais e na TV que alguns "felizardos especiais" têm amnistias todos os dias. Como?!... pois é... amnistias todos os dias! Ou não será verdade que alguns melrinhos desta praça têm o dom especial de lesar pessoas e o Estado e nem por isso prestam contas à Justiça? Claro que isto não é para todos, é só para alguns, só para aqueles especialmente relacionados com o chamado "arco do poder". São vários os casos conhecidos desta pequena praça e qualquer português do Minho ao Algarve, da Madeira aos Açores, por mais campónio que seja, soletra facilmente uma mão cheia de nomes.
Temos, por conseguinte, dois tipos de amnistia, uma de direito, outra de facto. A primeira, muito rara, è para aqueles "felizardos" que calharam e tiveram a sorte de meter a mão ao saco por alturas da vinda do Papa, ou muito perto disso. A segunda, aplicada todos os dias, a essa só têm acesso os "felizardos especiais", aqueles que fazem parte da elite do tal "arco do poder"... ou os membros de alguma "famiglia" financeira que tenha tinho o preventivo e especial cuidado de acautelar o futuro e alargar convenientemente os cordões à bolsa, às pessoas e partidos certos, nas épocas eleitorais.
Já lá vai o tempo em que um bom pai de família dizia aos seus filhos: "sejam honestos e cumpridores das vossas obrigações e estudem, estudem muito, pois o sucesso só se consegue com muito trabalho e estudo e os bons empregos estão guardados para os mais inteligentes e bem preparados". O que mudou?... quais os principais factores que determinam hoje o dito sucesso?... porquê tanta gente com uma ou duas licenciaturas, mestrados, doutoramentos a trabalhar como caixas de supermercados, cafés, confeitarias ou... desempregados?
Deixemo-nos de trêtas e passemos, sem mais delongas, ao que interessa: um bom pai de família hoje em dia começa por dizer aos seus filhos, aí por volta dos seus 15, 16, 17 anos, por alturas da frequência do Secundário: "inscrevam-se nas juventudes dos chamados partidos do arco do poder, não faltem a nenhuma reunião ou iniciativa, deixem-se dessas histórias de honestidade, ética, democracia, socialismo, social-democracia, respeito pelas promessas eleitorais, defesa da cidadania ou outras balelas do género. Para garantia do vosso futuro, quanto mais perto se colocarem junto das vedetas do poder melhor para vocês"!... de pequenino se torce o pepino, não é?... e assim começam os futuros secretários de estado e ministros com a escola toda!...
Quando estes filhos de bons pais de família chegam às Universidades que conselhos recebem dos seus progenitores?... os mesmos que no parágrafo anterior, só que mais profícuos e refinados!... o objectivo agora é serem eleitos a qualquer custo para as associações académicas, e então para a presidência de uma delas será a cereja em cima do bolo. Aqui chegados, os corredores dos Ministérios ficam escancarados, com reuniões atrás de reuniões, iniciativas atrás de iniciativas, e a tarimba nos meandros do poder está garantida. Mas então, com tantas passeatas, como ficam os estudos?... não se concluem as disciplinas atrasadas?... não se acabam os cursos?... isso jámais foi ou será problema!... um telefonema da pessoa certa para o "padrinho" certo e o curso fica concluído!... lembram-se do Relvas?... e daquele ex-primeiro ministro que fez a cadeira de inglês técnico a um domingo?... pois então...
Mas existem vários outros caminhos para se chegar a Roma. Ser presidente de uma juventude partidária da area do poder é um deles e também serve muito bem: o António Seguro e o Passos Coelho deram a volta por aí... e o segundo... zás!... chegou efectivamente ao poleiro. O Seguro, coitado, tem estado lá perto e continua tentando.
Para quê, por conseguinte, perder tempo e dinheiro com os nossos filhos, indicando-lhes caminhos que nunca conduzirão a Roma?
Está mais que visto que melhor que malhar anos e anos a fio num curso superior de uma qualquer escola pública, pago a peso de ouro e de futuro aproveitamento duvidoso, é mais bem rentável participar numa dessas ditas "universidades de verão" de uma qualquer JSD, JS ou JC, ouvindo ex-militantes do MRPP explicar como, partindo da defesa da ditadura do proletariado, depressa chegaram aos corredores do poder dito burguês... acenando, contentes e empoados, à passagem da majestática imperatriz Angela Merkel.
ANALISTA POLÍTICO - Analista político é todo aquele que se senta, sem nos pedir licença, nos ecrãs das nossas TV's e se delicia em despejar uns quantos e despassarados bitaites quanto à situação do país e à vida de todos nós. Tanto pode ser um ex-primeiro ministro caído em descrédito ou um professor de direito trapalhão ainda em exercício, um ex-presidente de um partido sem estatura para primeiro ministro ou um ex-autarca que atingiu o limite de mandatos e pretende desenvolver o balanço para novos e mais bem remunerados voos. O cidadão comum aprende muito com todos estes analistas, basta ver-se o alto nível atingido pelo exercício da cidadania no nosso país: os funcionários públicos, reformados e pensionistas espoliados nos seus rendimentos, em vez de resistirem, como diz a Constituição da República... baixam os braços; os milhares de jovens sem emprego, em vez de exigirem mudanças... emigram. Uma outra caracteristica de todos os analistas políticos é nunca se coibirem de aceitar que o partido do poder vem fazendo coisas muito más, contudo... que diabo!... tambem fazem coisas muito e muito boas e, coitados, se mais não fazem é porque a oposição não deixa. Todos nos tocam, pois, ao coração, e assim nos embrulham para continuarmos a votar na elite de coitadinhos que nos vem fazendo o favor de governar o país. Uma outra característica de todos os analístas, e aí se explica porque tanto sabem sobre política, é que nenhum deles tem rendimentos mensais superiores ao ordenado mínimo nacional (485 €), razão pela qual os seus conhecimentos teóricos são sempre bem alicerçados pelo seu dia-a-dia prático nos supermercados, transportes, hospitais, escolas... ao lado, inteiramente ao lado, de qualquer cidadão comum.
Na minha juventude tive um cãosinho preto, rafeiro, chamado Snoop. Esperto como era, tinha tudo para gostar dele. Era alegre e espevitado e eu nunca perdia a ocasião de o soltar sempre que podia, para grande consumição da minha mãe, que não gostava nada que o soltassemos. Era um cão de encantar. Uma das coisas que eu mais adorava nele, entre outras, era a sua capacidade para caçar ratos. Os roedores, pela calada da noite, roubavam-lhe sempre que podiam a comida que nós lhe deitavamos e ele, certamente por isso, ganhou-lhes um pó de criar bicho. Sempre que o ouviamos latir de noite era certamente por, estando preso, não poder abocanhar algum rato. Um dia, não sei como, ouvi uma grande gritaria em minha casa e, para espanto meu, era a minha mãe que se lamentava que lhe havia entrado um rato em casa. Ninguém sabia o que fazer. Um rato dentro de casa era pela certa confusão até altas horas da noite, até ser apanhado. Apanhado?... mas quem o conseguiria apanhar?... e por onde andaria ele, naquela confusão de móveis, gavetas e caixas de objectos antigos arrecadados? A minha mãe estava aflita, impaciente, desnorteada, sem saber o que fazer. Então, clik, lembrei-me do Snoop e a sua aversão visceral aos ratos. Fui ao terraço contíguo à casa onde então moravamos, peguei no Snoop pela trela e arrastei-o até à entrada da porta de casa. Disse-lhe então, baixinho, acicatando-o, "vai Snoop, vai, apanha o ratinho, apanha o ratinho"! O bicho entrou disparado pela casa dentro a grande velocidade, cheirando por tudo quanto era canto e debaixo das camas. Foram nem dois segundos, o coitado do ratinho, assustadíssimo, saiu disparado e esbaforido pela porta fora e o Snoop, sem lhe dar descanso, foi apanhá-lo debaixo de um carro estacionado na rua, imobilizando-o. A acção do canídeo mereceu palmas dos vizinhos que presenciaram a cena e nós, lá em casa, minha mãe incluída, passamos a tratar o Snoop como um verdadeiro herói, ainda mais merecedor, a partir daí, da nossa total admiração.
Vem esta história a propósito da actual situação vivida pelo nosso país. As pessoas são todos os dias espoliadas nos seus direitos, nos seus salários, nas suas reformas, nas suas pensões. As pessoas vêm sendo colocadas em mínimos de dignidade de há dezenas de anos atrás e, incompreensívelmente, pouco se manifestam, deixam-se roubar, não fazem nada... não dão troco aos espoliadores.
Ah Snoop, meu rico cãosinho, tu sim, não te deixavas levar. Ratinho que tas fizesse cá as pagava. Como tenho saudades tuas!...
Se toda a gente tem um blog, porque não hei-de ter eu um blog também? Por necessidade? Por vaidade? Por vontade de afirmação? Sei lá!... o que eu sei é que me apetece ter um blog e é isso que eu estou fazendo agora. Ainda agora comecei e, para falar verdade, tudo não passa para já de uma grande confusão. Mas hei-de lá chegar. Carrego nesta janela, carrego naquela e... ah... já percebi... então é isso. Já sou cota mas não sou tótó. O grande problema é tentar adivinhar o que escrever. Claro que não poderei escrever sobre assuntos sérios... serei de imediato expulso do mercado. Não me parece que escrever baboseiras me levará também a lado algum... ninguém me considerará um tipo sério. Sobre que escrever então?... eis pois a grande questão!...