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russomanias

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Dicionário de Política para Tótós - de A a Z

HONRADEZ - Bem sei que os meus amigos e amigas estarão já fartos de se rirem pelo facto de eu tratar esta bela e decente palavra "honradez" num dicionário que se quer de política, embora destinado este não ao homem comum mas a obstinados tótós. E eu sei que se riem do facto por erradamente suporem que, em política, haverá tantos homens honrados como em minha casa existirão barras de ouro escondidas debaixo do meu colchão. Compreendo-os e dou-lhes inteira razão, embora seja de meu entendimento que em Portugal a honradez em política não será uma coisa assim tão rara de se ver, para gáudio e alegria de todos que cá vivemos. Senão vejamos: já algum de vós verdadeiramente presenciou político digno desse nome que não pautasse a sua actuação pública por algo que não fosse o interesse do bem comum e o de toda a comunidade?... digam-me lá, não sejam acanhados!...

 

Bem sei que a vida está difícil e que sendo o caso de se desejar uma "cunha" numa Junta de Freguesia ou Câmara Municipal o melhor é dizer já que a honradez é a principal característica de todos os autarcas que por lá têm passado, salvo pena de eliminação imediata da lista permanente de espera. Também sei que naqueles casos em que se acaba uma licenciatura qualquer a melhor táctica para se tentar arranjar um "estágio" num Ministério onde está o amigo do partido é dizer que todos os políticos têm sido, são e serão sempre honrados, isto ao mesmo tempo que se preenche a fichinha de militante, não vá o diabo tece-las. Por conseguinte, isto de um político ser ou não honrado e honesto é tudo muito relativo, dependendo da correspondente "pole position" de cada freguês.

 

Uma coisa sabemos nós: não há político de topo do chamado "arco do poder" que não saia com a sua bagageira reforçada sempre que, enfastiado dos esforços e sacrifícios dispendidos nos cadeirões governamentais, se abalança para actividades fora do partido que lhe deu miseravelmente de comer e beber, isto pelo número de casos que se conhecem de vidas de luxo multimilionárias a que só gente de muita honra consegue chegar.

 

Está na cara meu Senhor!...

Quantas vezes damos por nós olhando de soslaio para determinada figura que nos passa pela frente e nos questionamos: pessoa importante, hein?... mas que fato, que carro, que casa!... só pode ser mesmo gente grã fina, gente de bem, gente de muitas posses!... ou então: olha-me para aqueles dois ali, parecem mesmo classe média alta falida, disfarçam mas estão na pior, a crise não poupou ninguém, não achas que por detrás daquela algazarra toda o que eles estão é mesmo na pior?... e por aí fora. A maioria das pessoas habitua-se a medir o verdadeiro estado dos outros partindo de bitolas curriqueiras e simplistas, deixando ao ter e haver a chave do tudo ou nada da felicidade alheia.

 

Mas o exercício torna-se muito mais complicado quando, por esta ou aquela razão, lá nos descortinamos a abrir um pouco a janela alheia, ou ela nos é intencionalmente franqueada, e então constatamos que, para espanto nosso, as coisas não sempre bem assim, que não é o Mercedes SLK 250 do nosso vizinho ou amigo que o torna mais feliz que o outro que conduz um simplório Peugeot 205, ou então que o estafermo do padeiro da rua por detrás da nossa, que vive num T2 sem elevador e lareira, é um tipo divertidíssimo e alegre, felicíssimo até, em comparação com o empoado empresário de caixilhos de alumínio nosso conhecido, que vive num casarão acastelado com uma piscina enorme e balancés e escorregas sempre vazios, que se destinavam às brincadeiras de fim de semana dos seus queridos e inquietos filhinhos. Como explicar esta aparente não conformidade, esta nem sempre directa correspondência, entre o ter muito ou pouco e o ser verdadeiramente... feliz?...

 

Aqui há uns anos, passeava eu e a minha raínha na pista da Praia de Salgueiros, em Vila Nova de Gaia, e deparamo-nos com um casal de ciganos que vendia roupa e bugigangas no passeio em frente à praia. Casal divertido, em breve nos contavam peripécias na sua linguagem alegre, simples mas viperina. Dessas conversas, a que mais retive na memória até hoje foi aquela em que o marido da senhora cigana nos disse que não pensassemos sequer que toda a gente rica era feliz. Muitos, dizia ele, por detraz da riqueza que aparentam escondem por vezes vidas de grande infelicidade. A partir daí, decidi-me a avaliar a verdadeira felicidade das pessoas não pelo que têm, mas por aquilo que é muito mais difícil esconder... os contornos da sua cara!...

 

 

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