Europa velha
Sempre tive muitas dúvidas em afirmar convincentemente o meu orgulho em ser cidadão europeu. Acenavam-me com um continente onde imperaria a liberdade, mas a liberdade é extremamente importante mas só por si não chega. Depois falavam-me numa Europa sem fronteiras, o que era óptimo mas não deixava de ser insuficiente. A seguir vinha aquela conversa da tão desejada moeda única para todo o continente, medida muito bonita mas que cheirava bastante a esturro, como depois se veio a comprovar. Mas então, podemos todos perguntar, não seria simplesmente formidável vivermos num continente europeu finalmente em paz duradoura, depois de centenas de anos em que duas ou três nações o dizimaram de tempos a tempos a ferro e fogo? Claro que seria óptimo, fantástico até, podermos todos finalmente falar de uma Europa solidária, daquela tão sonhada Europa em que as nações mais fortes se integrariam com as nações mais fracas na resolução dos seus problemas comuns, em que os povos europeus se sentissem como fazendo parte de um todo coeso e uno.
Porque razão já não existe, nos dias que agora passam, esse sentimento forte e orgulhoso de se ser europeu? As razões são várias, sendo a principal certamente a falta de uma verdadeira solidariedade entre os vários países que compõem a Comunidade. Como nos poderemos sentir europeus se um só país, a Alemanha, se comporta como uma verdadeira dona e senhora da verdade e da razão, impondo e exigindo ferreamente aos restantes países, nomeadamente aos mais frágeis, medidas e comportamentos de acordo com os seus próprios interesses e benefícios? E que dizer de uma Europa que propala pelos quatro cantos do mundo os seus milionésimos princípios sobre o "ser o humano" e os "direitos do homem" se depois deixa morrer às suas portas milhares de homens, mulheres e crianças que fogem à guerra e aos massacres em massa?
Esta não é a minha Europa, esta é a Europa velha... imbuída dos mais soezes egoísmos, oportunismos e traições!...