A minhas sondagens
Já perguntei a muitas pessoas, a amigos e a desconhecidos, se algum dia foram já convidados a participar em "sondagens" sobre quem é o líder político de quem mais gostam, o partido em quem pensam votar nas próximas eleições, o político que não suportam ou a carinha mais simpática e laroca com quem gostariam de jantar e trocar uma conversas interesantes e intimas até. Depois de muito ter perguntado, e reparem que já venho fazendo isto há anos, pelo que o número de vezes que o fiz irá já nas centenas, se não milhares, todos me responderam que não, que nunca foram convidados para verter faladura sobre esses importantes assuntos com que somos bombardeados todos os dias nos jornais e na televisão. Intrigado, constatei até que, até hoje, e os meus filhos já me chamam de cota, eu próprio nunca fui convidado a verter umas labercas sobre esses chamados grandes "estudos de opinião" que hoje, como nos anos anteriores em que há eleições, sempre nos moem a cabeça como as nossas queridas mãesinhas nos faziam quando eramos miúdos e não estavamos nada virados para ensacar com o enfastiante prato da sopa.
Esta falha, esta grave lacuna nas respostas às minhas interrogações, levou-me a tentar reparar mais intensa e aprofundadamente em toda esta "indústria" de milhões que gira à volta das "sondagens" e destinada a "programar", devida e convenientemente, os cérebros do pagode que de quatro em quatro anos deixa cair o papelinho na urna como quem pede milagres na capelinha das aparições. Avançando, deu para descobrir que Portugal tem cérebros brilhantes na área das ditas "sondagens", tais como Agostinho Branquinho, da distrital do Porto do PSD, sumidade cientifica que se estrou na política como defensor da "ditadura do proletariado" do MRPP e agora goza, intensamente, o bem bom da "sociedade burguesa", como é tudo explicado na darwinista teoria da evolução das espécies. Intrigado, comecei então a compreender o motivo pelo qual nunca fui contactado para dar voto nas últimas "sondagens" que dão ao PSD e CDS 35/36% e até mais, para já não falar naquelas que deram tais partidos como os "vencedores" das próximas eleições. É que, pelos vistos, alguns dos doutos e abnegados "cientistas" da poderosa indústria das "sondagens" nunca, mas nunca, me irão perdoar o meu passado "revisionista", perigosa mancha que, acham eles, afectará para sempre a liberdade das minhas opiniões.
Assim, aqui chegado, decidi eu próprio fazer a minha "sondagem", ouvindo muito atentamente os comentários das pessoas na hora de pagar na caixa do supermercado, nos transportes públicos, na hora de pagar as taxas moderadoras no Posto de Saúde e no Hospital, na fila de espera da Repartição de Finanças. E o resultado desta minha "sondagem" às "bocas" do povo não foi nada boa para os actuais partidos do Governo, ouvindo só respostas do tipo: "malandros, mentirosos, gatunos, criados da Senhora Merkel, vendidos, ladrões dos reformados, oportunistas, chulos, filhos da p***"... e por aí fóra com outros pomposos "elogios" assim do estilo. Peço-vos a todos desculpa por esta minha linguagem e franqueza, mas este foi, sem tirar nem pôr, "ipsis verbis", o resultado desta minha derradeira "sondagem" que, ao contrário das que dão nos jornais e televisão, foi expressa por pessoas de carne e osso, desbragadas é certo, mas que transitam pelas nossas ruas e... bem reais!...