A Páscoa no tempo da minha avó
No tempo da minha rica avósinha aquilo sim é que era Páscoa. Depois de despachar o tilintante compasso e o bem nutrido Senhor Abade com um beijinho nos pés do Senhor, cabrito e batatas assadas em forno a lenha eram o topo do programa por todos ansiado. Então não havia aquelas gajas e gajos com a solapada mania "vegan" de tudo proibir e só permitir o consumo de plástico recauchutado de soja e outras iguarias quimicas a imitar a carne. Não, naqueles tempos era tudo verdadeiramente como no tempo milenário do Senhor... cabritinho assado, tostadinho, e quanto mais tenrinho melhor. É claro que minha avó não tinha então nem tempo nem muito menos pachorra para nos andar a procurar e a enfartar com os tais de ovos "Kinder", guloseima então arredada e desconhecida do cardápio pascal, mas outras iguarias havia que certamente seriam hoje bem pagas a peso de ouro, como o célebre pão-de-ló feito em forno a lenha, com ovos amarelinhos verdadeiros, de galinhas criadas à solta nos quintais dos lavradores da aldeia da minha avó.
Claro que dá para perceber que já nem tudo é como dantes, nem tal poderia ser claro, que isto de andarem para aí a dizer-nos todos os dias não comas isto não comas aquilo, não comas carnes vermelhas nem comas atum, não comas muito menos salmão nem excesso de lactícinios, tudo isto nos deixa as suas marcas e deita abaixo a nossa verticalidade. E tudo isto para vos dizer que o que me apetecia agora mesmo era deglutir um bom pacotinho de amendoas de rolão, logo seguido de outro de amendoas torradas da Costa Moreira, ambas também do tempo da minha avósinha e que nem os hipermercados se atrevem hoje a vendê-las, de tão caras e raras que são, nada comparáveis às desenxabidas e esfaceladas dos tempos de hoje, vendidadas nos tais ditos e às paletes. Claro que logo dirão alguns de vocês que uma imitação do compasso nos dias de hoje ainda anda na rua e que as amendoas de chocolate também são muito boas. Pode ser. Mas, e o cabritinho assado na assadeira de barro vermelho em forno a lenha?... e o pão-de-ló de ovos amarelinhos verdadeiros?...
Ah, aquela Páscoa no tempo da minha avó...