Alice no país dos mentecaptos
Já imagino a cara daqueles que me virão logo dizer que a abstenção nas últimas eleições tem de certeza muito a ver com a saturação que as pessoas sentem relativamente à política e aos seus mais ilustres operadores. As pessoas não vão votar, dizem-nos, porque estão fartas de serem enganadas pelos políticos e pelas constantes e diárias notícias de corrupção do alto a baixo da sociedade e dos principais partidos que nos têm (des)governado. Mas então, pergunta-se, e não se faz nada, o país está mal servido de liderança e limitamo-nos a assobiar para o ar ou a dar à sola e a emigrar? Assaltam-nos a casa e os haveres e nós, em vez de os defendermos com unhas e dentes, vamos ao café do vizinho tomar um copo ou a casa de um amigo jogar à lerpa? Que educação cívica andamos nós a dar aos nossos filhos? A quantas lições de cidadania ainda teremos que assistir para compreendermos de uma vez por todas, finalmente, o quão importante é a participação de todos nós na defesa da liberdade e da democracia tão duramente conquistados?...
Mas que raio de país é este em que cinquenta por cento dos eleitores não têm disposição nem "tempo" para votar uma vez de quatro em quatro anos, mas já têm disposição e "tempo" para no final de um jogo de futebol, em Londres, entre as equipas B de futebol do Porto e do Benfica, roubarem uma camisola que tinha sido oferecida a um jovem deficiente em cadeira de rodas que assistira ao jogo? E, não contentes com a sua heroica façanha, ainda tiveram "tempo" para ameaçar fisicamente o jovem deficiente. Quem nos pode pacientemente explicar acto tão patriótico como corajoso destes nossos destemidos compatriotas?
Que maravilha de país é este?... O da Alice de certeza não é!...