Aquelas minhas ricas Férias...
Há para aí muito boa gente que quando começa as férias entra em "stress" e quando as termina cai na fossa. Não sei bem porquê mas nunca encaixei essa de partir a galope no primeiro dia de férias e regressar delas no último. Ir de férias, penso eu, não deverá ser nunca uma obrigação mas sim um deleite, um gozo, um prazer, uma aventura, um divertimento. É claro que, assim como há quem adore passar duas horas numa fila de carros durante um fim de semana, afim de mostrar a toda a gente a última "bomba" que comprou a prestações, também existem certamente aqueles que fazem das férias um momento demonstrativo do seu elevado "status" social, sustentado nem que seja a economizar nas fatias de fiambre e queijo que por vezes se comem lá em casa, que isto de entrar todos os anos ao despique das melhores fotografias de férias no Facebook tem os seus custos e, tendo-se entrado na corrida, é sempre de mau tom sair dela sem uma justificação plausível aos inúmeros "amigos" que tanto trabalho deram coleccionar.
É pensando naquelas e em outras situações que por vezes me vem à memória as minhas férias de quando era puto, em que os intervalos entre cada ano escolar eram então de nada mais nada menos que três meses. Aquilo sim, eram férias grandes e espremidas, em que com pouco se fazia muito e cinquenta quilómetros eram mais de trezentos nos dias de hoje. Férias para mim era partir com a minha avó numa camioneta velhinha da Feirense, apanhada na Avenida da República, em frente à Câmara de Gaia, com destino a Cabeçais, Arouca. Aquilo era uma autêntica aventura!... chegar aos Carvalhos era empolgante, com a camioneta a roncar a fundo nas subidas da antiga EN 1. Aí chegados, ainda havia que passar e subir para Grijó e, mais à frente, havia paragem mais que certa na Garagem da Feirense, em Lourosa, para mudar de camioneta. Após grande confusão, no meio de inúmeros passageiros, camionetas, galinhas, pequenos pipos de vinho, embrulhos e açafates, nova corrida até Cabeçais, onde era feita mais uma mudança de camioneta, desta vez para uma ainda mais pequena e mais ronceira, que nos levaria até Belece, uma pequena e bonita aldeia da Freguesia de S. Miguel do Mato, terra de minha mãe. Fazer 40 Kms, de Gaia a Belece, por estradas e estreitas ruas em curvas e contra-curvas até perder de vista, era então uma aventura extraordinária, só ultrapassada pelo que iria acontecer nos seguintes quinze dias de férias, com correrias loucas pelos campos e pinhais da aldeia, acordar com o cheiro da lareira acesa, chafurdar nos regatos e presas de água fresca que corria com fartura, andar de carro de bois com o Zé Pessegueiro (contra a vontade da minha avó), ouvir os inúmeros pássaros, fazer tramelas (espécie de catavento) e ventoinhas com a casca seca dos eucaliptos, apanhar lenha para a minha avó ou ir com ela às Juntas, terra dos meus bisavós, comer broa de milho, rojões e carne com batatas assadas.
As férias de que mais me lembro eram assim, em miúdo, sem grande "stress", feitas de pequenas aventuras, vividas, longas caminhadas, simples, rodeadas de natureza e vida, de pequenas coisas, pagas na hora, de ir e chegar ao ritmo da camioneta ronceira que nos levava, e que por vezes não nos trazia, pelo que no regresso, de Belece a Cabeçais, vinhamos no táxi do Zeca, extravagância e então luxo que a minha avó tinha que suportar, para não perder a camioneta de ligação que vinha de Arouca para o Porto.
Aquelas minhas ricas Férias...