Dicionário de Política para Tótós - de A a Z
CAMALEÃO - Como todos sabem, o camaleão é um animalsinho muito esperto da família dos lagartos, com uma habilidade enorme para mudar de cor quando lhe convém, a fim de passar despercebido ou abocanhar algum petisco que lhe passe à frente. Em Portugal a actividade do camaleão é bastante relevante, sendo uma figura bastante notada pelas suas manobras de encobrimento, disfarce ou aproximação. Assim, quem não conhece na rua ao lado da sua um freguês ou uma "madame" que antes do 25 de Abril nem era carne nem era peixe, nem de direita nem de esquerda, nem a favor nem contra o Marcelo, nem pelos comunistas nem pelos socialistas, nem bebia branco nem bebia tinto? Alguns, tão habilidosos que eram na camuflagem, passavam até por revolucionários quando na verdade outra coisa não eram que fingidos "bufos" da PIDE nas horas vagas, somente para abocanhar uns trocos.
Logo após o 25 de Abril o terreno espraiou-se e tornou-se demasiado fértil para todo o tipo de bicharada camaleónica. Logo o ex-"bufo" da PIDE tratou de comprar o cravo vermelho para o colocar, frondoso, na lapela. E era vê-lo no Terreiro do Paço, em Lisboa, ou na Avenida da Liberdade, no Porto, a gritar com toda a força pela Revolução... contra o perigoso fascismo. E depois vieram aqueles "lagartos" multiculor que no início se diziam independentes ou do MDP-CDE, mas logo, após o 11 de Março de 75, já eram do PCP. Logo a seguir, com o 25 de Novembro de 75, trataram de passar de imediato, muito bem disfarçadinhos e camuflados, para o PS ou PSD.
A família dos lagartos Chamaeleonidae, com origem há mais de 100 milhões de anos, detentora de capacidade para mudar de cor conforme a conveniência, de lingua rápida, olhos atentos, que se movem independentemente um do outro, como se vê notoriamente capazes de se adequarem ao meio ambiente que os rodeia sem qualquer tipo de dificuldade, passam por nós todos os dias mas quase que nem damos por eles, habituados que estamos ao evidente e ao óbvio, esquecendo o velho ditado popular que diz que "nem tudo que reluz é ouro". É que, por detrás das aparências de um mais ferrenho e notório PSD pode bem estar um ex-PS, ou um ex-PRD, ou então um ex-PCP, ou ainda um ex-MDP, ou até, quem sabe, um ex-MRPP, apresentando-se agora como secretário de estado ou, mais extraordinariamente ainda... como presidente da Comissão Europeia.