No meu tempo de caloiro as PRAXES eram mais giras!...
No meu tempo de "caloiro" as praxes eram mais giras porque começavam logo aí por volta dos dez, onze, doze anos. No meu caso começaram tinha eu ainda nove anos e meio, altura em que fui "praxado" de uma forma que me marcou para a vida toda. Tinha eu então acabado de fazer o quarto ano, na altura chamado de quarta classe. Como lá em casa não havia "chêta" que chegasse para encher a panela para caldear os pratos de nove pessoas, entendi por bem pedir aos meus pais autorização para ser "praxado", que naquela altura significava ir... trabalhar. Trabalhar, pois claro!... Não sabem o que significa ir trabalhar com nove anos e meio? Eu sei. Os meus pais ainda me perguntaram se não queria continuar a estudar, e eu disse que sim, mas mais tarde, à noite, como trabalhador estudante.
Mal comecei a ser "praxado" lá na empresa, chegava todos os dias a casa extremamente cansado, com o cabedal todo partido e as mãos doridas das farpas de madeira que entravam por lá cima. Para ajudar à "integração" de todos os "praxados", estavam instuidas normas de conduta imperativas para toda a gente, tais como: levantar-me todos os dias da semana, sábados incluídos, às sete horas da manhã para estar à porta da empresa, pronto para dar inicio à "praxe", aí por volta das oito; ser "praxado" todos os dias da semana, sábados incluídos, das oito da manhã ao meio dia, ininterruptamente, com pesos na ordem dos dez a vinte quilos; todos os dias, após o almoço de uma hora, continuar com a mesma dose de "praxe" até às dezoito horas. Mas o mais extraordinário é que as "praxes" então decorriam pelo ano inteiro, de Janeiro a Dezembro, sem espaço para férias, já que naqueles meus tempos felizes exigir férias no tempo da "praxe" era motivo para ser expulso da empresa... e por justa causa.
Muito me admiro eu agora por a malta actual exigir isto e mais aquilo para ter a sua "praxe", por andarem às brutas lambadas uns com os outros, a comer cócó do "Dux" lá do sítio e a beber xixi da namorada do "Veteranorum". No meu tempo, acho eu, era tudo muito mais giro... bastava ter um pai e uma mãe com eles lá no sítio e uma vontade e sentido de obrigação enorme de contribuir para a panela da sopa, já que pilim que chegasse não havia.