O 25 de Abril dos "pequeninos"... e o outro
É claro que logo lhes passará pela cabeça aquela imagem de que "olha, lá vem o gajo novamente com mais invencionices estapafúrdias", situação que só poderei dar de barato sabendo, como toda a gente já sabe, que nem sempre o que parece é, e isto já desde que o homem desceu das perigosas árvores e experimentou a fogueirinha acolhedora na entrada das profundas e protectoras cavernas. E a questão vem precisamente do facto de hoje os "pequeninos" comemorarem o dia 25 de Abril em todas as cidades, vilas e recônditas aldeias deste país, nuns lados com mais cerimónia noutros nem tanto, mas com festaróla quanto baste, com desfiles de carros alegóricos, canções do Paulo de Carvalho e do Zeca, tudo muito bem acompanhado com as reconfortantes farturas, algodão doce, pipocas multicolor, pão doce de côco, cavacas de Rezende, cerveja, Coca-Cola, Fanta, enfim, de vez em quando com uns estridentes "Viva a Liberdade!", que por sinal é dos poucos "direitos" que ainda nos restam após todos estes anos e bem distante já do modelo original.
Mas ainda há um "outro" 25 de Abril que estará certamente a ser também comemorado, não já nas ruas deste solarengo e pacífico país, mas no reconforto de alguns iates de luxo e hoteis de cinco estrelas, não com música popular salpicada de algazarra, antes com projecções de novos e empolgantes "negócios" da laia do BPN, BES, BPP, BANIF, festanças onde estarão presentes conhecidos e "honestos" banqueiros com a Justiça às costas mas contudo muitíssimo confiantes, alegres, seguros, sorridentes e descontraídos. É claro que muito naturalmente por lá também certamente andarão conhecidos autarcas e ex-políticos suspeitos de vários crimes de corrupção activa para titulares de cargos políticos, corrupção passiva para acto ilícito, branqueamento de capitais, fraude fiscal e outros de idêntico quilate. Supostamente aqui não entrarão já as cavacas de Rezende e a Fanta, antes o caviar e o champanhe Veuve Clicquot, vitualhas a que os "pequeninos" não estão predestinados a atribuir o devido valor.
Bem sei que após esta ligeiríssima apreciação de imediato irei ser acusado de enxovalhar e denegrir os sacrossantos, imutáveis e sagrados princípios do materialismo dialético e materialismo histórico na apreciação e análise de um importantíssimo acontecimento nacional e revolucionário, mas a isso só poderei honestamente responder com a conhecida e bela sentença do mais emblemático banqueiro nortenho, tenho muita pena... "aguentem!"...