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russomanias

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Panamá trêtas

Foi por estes dias amplamente denunciado que por esse mundo fóra, incluindo Portugal, inúmeros felizardos chico-espertos colocaram o seu rico dinheirinho a salvo de olhares suspeitos em "offshores" gizadas, legalizadas e orientadas através de um escritório de advogados sedeado no Panamá. Os telejornais abriram com a grande notícia a toda a altura, já que os prevaricadores eram aos milhares e só de Portugal mais de duas centenas. Claro que tanto aqui como por esse mundo fóra saber o tamanho do escândalo ou as centúrias de riquinhos transfugas não era coisa necessária, o que era urgente mesmo era saber os nomes completos dos melrinhos que se encontravam na lista surripiada no país do longo canal que separa as duas Américas. O "suspense" era tremendo, havia gente muito gráuda, dizia-se, antigos e actuais ministros até, gente do espectáculo, do futebol, grandes empresários. Vai daí, o sempre criativo pessoal começou logo a imaginar que começariam desde logo a despejar nomes tipo Bill Gates, Obama, Rockefeller, Clinton, Buffett, Soros, mas nada disso. No primeiro dia dos barulhentos anúncios televisivos os únicos nomes que conseguiram sacar daquela lista de milhares foi o de... Putin, do primeiro ministro da recôndita Islândia e os de uns quantos chineses de quem nunca se ouviu falar. Americanos não havia... tudo gente séria e pagadora impoluta dos seus impostos.

 

É claro que muitos daqueles que são obrigados a pagar escrupulosamente os seus impostos, e sem chêta para contratar "especialistas" para montar "offshores", começaram por vir para a rua e a carpir nas redes sociais, às centenas de milhares, contra os governantes que fomentam os sistemas de fuga ao Fisco, por um lado e, por outro, criam diariamente leis que obrigam as classes médias, e as restantes abaixo, a um cada vez maior esforço contributivo. É claro que a partir daqui lá se confirmou então que o primeiro-ministro da Islândia sempre estava entalado, o primeiro.ministro da Inglaterra vai, embora muito lentamente, pelo mesmo caminho, e dos portugueses já denunciados todos negaram que o objectivo era fugir ao Fisco, tudo pessoas honestas e cumpridoras das suas obrigações, coitados, que colocaram o seu rico dinheirinho lá fóra pela única e simples razão de que... não era ilegal!...

 

Daqui, fica-se com a suspeitosa sensação de que o "Panamá Papers" se destinou não mais que a ofuscar a saída airosa de Putin da embrulhada que americanos e europeus montaram na Síria, o resto não passando de trêtas de que já toda a gente sabia. Ou não será verdade que não é novidade para ninguém que neste país, como em vários outros, com o Fisco e a Justiça só os de baixo é que têm obrigações?...