Simplesmente... Natal!...
Haverá alguém que não goste do Natal?... haverá certamente, mas a grande maioria estou certo de que gosta ou, pelo menos, tolera. Natal faz-nos lembrar os tempos de criança, em que tudo é sonho e fonte de divertimento, em que a vida se nos depara pela frente em toda a sua pujança e esplendor. Natal a mim faz-me lembrar aqueles anos em que minha mãe e meu pai se levantavam cedo nesse dia para irem à missa e nós, miúdos, ficavamos ansiosamente aguardando que chegassem para saltarmos de um pulo da cama para inspeccionarmos os brinquedos depositados debaixo da chaminé lá de casa. Natal para mim são as rabanadas feitas com pão de carcaça, leite, ovos e muito sabor a limão e pau de canela. Natal para mim é a saborosa letria feita com leite, limão, canela em pau e desenhos de canela em pó. Natal para mim é a grossa posta de bacalhau cozido, bem ornamentado com batata, penca, alho, azeite e vinagre. Natal para mim é o bolo rei e o pão de ló do Pingo Doce... e um bom queijo da serra regado com Vinho do Porto.
Mas então, dirão vocês, e o espírito de Natal, aquela doce sensação de bem estar, entreajuda e solidariedade para com os que nos rodeiam? Bem, esse espírito carece de estar presente em nós durante todo o ano e não só na época de Natal, como por muitas e variadas razões geralmente acontece. Se há algo com que não me resigno no período de Natal é com os elevados índices de consumismo e despesismo em escala elevada, sinais de que a dura austeridade afinal não toca a todos... somente aos da base da pirâmide. Claro que milhares trocarão de carro e outros milhares partirão de férias para a neve, somente ficaremos por saber se serão os mesmos milhares que este ano viram os seus carros de luxo confiscados pelas Finanças, como foi noticiado há dias, que isto de querer mostrar "status" a toda a força mas não ter um vintém para mandar tocar um cego tem os seus custos na "fotografia" social.
Para mim, que sempre me contentei com pouco, que venham então daí o grosso bacalhau, as bem molhadas rabanadas, a doce e requintada letria, o bem frutado bolo rei, o macio pão de ló, o suave e amanteigado queijo da serra, o espirituoso e bem português Vinho do Porto e, se possível, um interessante e bem documentado livro de história... que já me dou por inteiramente satisfeito.