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russomanias

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Da União Europeia, eu?...

Já ouvimos mais de milhentas e uma opiniões sobre as vantagens e desvantagens de pertencer à União Europeia. E é claro que nenhum de nós é assim tão burro que não perceba logo que uma coisa é podermos estar sentados a uma mesa grande e farta onde os comensais são mais que muitos e o que cada um deles contribui para o repasto dá e sobra para nos satisfazer o apetite e aquecer e animar a alma. E que outra coisa, bem diferente, é uma pujante e soberba Alemanha entrar na sala carregadinha daquelas famosas salsichas com mostarda e cerveja de Munique que só eles sabem fazer. Só aquilo dava para sustentar os 28 sedentes e esfomeados e ainda sobrava para deitar fóra. Mas entretanto chega a orgulhosa França a abarrotar de queijos Camembert e Roquefort, "foie-gras" e champanhe Veuve Clicquot. Meu Deus, que vamos fazer a tanta fartura? Mas atenção, ainda não chegou o sempre desconfiado e prático Reino Unido, com as suas soberbas costelas de borrego, cortadas como só eles o sabem fazer, o seu fabuloso queijo Stilton e o "Christmas Cake" pesado como chumbo mas de comer e chorar por mais. É a este faustoso e sempre insatisfeito clube de comilões que países como Portugal têm que satisfazer à mesa e fóra dela.

 

Esta semana, ao ouvir mais uma vez o sempre mal disposto e embirrento ministro alemão Schäuble falar sobranceiramente sobre Portugal, perdi o pouco apetite que já me restava de continuar a servir à mesa de tal súcia de macilentos glutões, trogloditas, sebosos, bêbados, presunçosos, egoístas, empedernidos nacionalistas, oportunistas, conservadores, anti-europeus, analfabetos, incultos e outros nomes de que entretanto me recordarei em próximas crónicas. Empanturrem-se vocês para aí com as vossas salsichas, o vosso "foie gras", o vosso Stilton, a vossa cerveja e a vossa Veuve Clicquot, que eu por cá me contento com o meu presunto de Chaves, o meu leitão da Bairrada, o meu cozido à portuguesa, o meu queijo da Serra, os meus ovos moles de Aveiro, as minhas deliciosas natinhas com canela, o meu pão-de-ló de Arouca, o meu inigulável vinho do Porto "vintage", o meu cafézinho Sanzala e milhentas outras variadas iguarias com que vocês, seus merdas, e para vocês a preço de saldo, vos lambuzais todos quando tendes a infinita sorte de assentar o coirão neste pequeno mas orgulhoso país.

 

Da União Europeia, eu?...

 

 

A Páscoa no tempo do Facebook

Já deixei aqui umas lembranças dos festejos da Páscoa no tempo da minha avósinha, coisa já um pouco antiga e deslocada nos dias de hoje. Claro que me faltou então referir ainda umas tantas modas, como a de levar um raminho de flores à madrinha no Domingo de Ramos, artimanha para sacar à desgraçada um mais que certo embrulhinho de amendoas ou uma nota de vinte escudos, coisa então de suma importância naqueles tempos de escassez e falta de folgo. Mas agora não, tudo é diferente. O pessoal, em vez de estar com aquela trabalheira toda de raminhos para a madrinha, cozinhados e mais assados para trás e para a frente, pão-de-ló de Arouca ou de Felgueiras, amendoas Costa Moreira e outras guloseimas hoje em dia a preço proibitivo e que obrigam a mastigar com uma certa constância, optou agora por festejar a Páscoa de uma forma diferente e bem mais vistosa, ou não estivessemos todos nós numa nova era, fantasiosa e de estrelato para qualquer um.

 

O cabritinho com batatas assadas no forno é hoje em dia substituído por um suculento e bem cheiroso Big Mac Menu, bem mais macio e menos trabalhoso de manejar, acompanhado agora não por um maduro tinto da Adega Cooperativa de Mesão Frio, mas por uma valente Coca Cola com quatro pedras de gelo. É claro que o pessoal não vai apressadamente colocar no Facebook que esteve no Mac Donald's a comemorar a Páscoa, não senhor. O pessoal não nasceu hoje e tem que aparecer sempre em beleza e à grande, logo, o que vai fazer é pesquisar na "net" uma boa e sujestiva foto de uma "cabritada" no forno a sério, em Mirandela ou em Bragança, e postá-la no Face como um dia bem passado lá na terrinha da família. Tudo bem feito e melhor pensado, o negócio é muito bem capaz de render para cima de 220 "gosto" e 67 "comentários" a dar os parabéns e a tentar saber onde fica a catedral do vistoso manjar. Isto como consequência directa, já que, como ganhos colaterais pode ainda render mais uns quantos 17 "amigos" e outros tantos candidatos.

 

A Páscoa no tempo do Facebook não é nada conservadora como no tempo da minha avósinha... é fenomenal!...

 

 

A Páscoa no tempo da minha avó

No tempo da minha rica avósinha aquilo sim é que era Páscoa. Depois de despachar o tilintante compasso e o bem nutrido Senhor Abade com um beijinho nos pés do Senhor, cabrito e batatas assadas em forno a lenha eram o topo do programa por todos ansiado. Então não havia aquelas gajas e gajos com a solapada mania "vegan" de tudo proibir e só permitir o consumo de plástico recauchutado de soja e outras iguarias quimicas a imitar a carne. Não, naqueles tempos era tudo verdadeiramente como no tempo milenário do Senhor... cabritinho assado, tostadinho, e quanto mais tenrinho melhor. É claro que minha avó não tinha então nem tempo nem muito menos pachorra para nos andar a procurar e a enfartar com os tais de ovos "Kinder", guloseima então arredada e desconhecida do cardápio pascal, mas outras iguarias havia que certamente seriam hoje bem pagas a peso de ouro, como o célebre pão-de-ló feito em forno a lenha, com ovos amarelinhos verdadeiros, de galinhas criadas à solta nos quintais dos lavradores da aldeia da minha avó.

 

Claro que dá para perceber que já nem tudo é como dantes, nem tal poderia ser claro, que isto de andarem para aí a dizer-nos todos os dias não comas isto não comas aquilo, não comas carnes vermelhas nem comas atum, não comas muito menos salmão nem excesso de lactícinios, tudo isto nos deixa as suas marcas e deita abaixo a nossa verticalidade. E tudo isto para vos dizer que o que me apetecia agora mesmo era deglutir um bom pacotinho de amendoas de rolão, logo seguido de outro de amendoas torradas da Costa Moreira, ambas também do tempo da minha avósinha e que nem os hipermercados se atrevem hoje a vendê-las, de tão caras e raras que são, nada comparáveis às desenxabidas e esfaceladas dos tempos de hoje, vendidadas nos tais ditos e às paletes. Claro que logo dirão alguns de vocês que uma imitação do compasso nos dias de hoje ainda anda na rua e que as amendoas de chocolate também são muito boas. Pode ser. Mas, e o cabritinho assado na assadeira de barro vermelho em forno a lenha?... e o pão-de-ló de ovos amarelinhos verdadeiros?... 

 

Ah, aquela Páscoa no tempo da minha avó...

 

 

Arroz de pato... com chouriço!...

Não sei se a algum ou alguma de vós já aconteceu, mas a mim já. Como bom apreciador de arroz, doença que herdei de meu falecido pai, que comia com toda a facilidade arroz todos os dias, sem nunca enjoar, um bom prato de arroz de pato é coisa capaz de me obrigar a fazer arriscada inversão de marcha e meter por quelhas e travessas até me alapar à volta de uma mesa para saborear o bicho, bem esfiapado, numa generosa travessa de arroz fofo e alourado. Até aqui tudo nos conformes, mas já não assim tão bem quando nos acomodamos num restaurante com a família para atacar a saborosa ave e, espantados, que nos colocam em cima da mesa?... uma fantasmagórica travessa de arroz dito de pato, encimada com rodelas de chouriço ressequido até dizer basta mas, do tal de pato... nem vê-lo!... isso a mim já me aconteceu, e só tive que colocar o tal restaurante no "index" dos alvos a abater com um alargado bota-abaixo pelos amigos, maldade minha que nem foi sequer necessária já que, passados uns meses, o caprichoso restaurante foi-se abaixo das perninhas e fechou portas.

 

Vem esta picardia do arroz de pato a propósito da última sondagem da Universidade Católica, que dá a coligação PSD/CDS à frente do PS nas intenções de voto para as legislativas, sondagem que para mim vale tanto como um chourico, mas que trás contudo para cima da mesa uma realidade bem conhecida da política portuguesa: é que o PS tem-nos andado a impingir demasiado arroz de pato falsificado, isto é, só com chouriço e, como é de compreender, o pessoal não tem gostado do sucedâneo e propõe-se abandonar a mesa para ir comer a saborosa ave, e o dito arroz, a outras paragens. Mas significará isto que o verdadeiro e saboroso arroz de pato, o tal bem português, estará neste momento a ser servido pela coligação PSD/CDS?... quanto a mim o que o PSD/ CDS têm juntado ao arroz não passa de frango do aviário, que pode ser parecido com pato... mas não é a mesma coisa!...

 

Esperemos, pois, que o Zé Pacóvio, que por vezes se entretem com algumas coisas que lhe impingem, sem interesse, mas contudo nem sempre gosta que o tratem abertamente como burro, dê rapidamente conta da ultrajante e pecaminosa aldrabice e, com toda a determinação e a tempo, exija para o país aquela excelência gastronómica bem portuguesa que é um saboroso e bem apresentado arroz de pato como deve ser, isto é... com pato!...

 

 

Farto da Europa... vale mais ser português!...

Vocês vão já dizer, é certo, que aí vem mais uma de política, pois não há dia da semana em que não assente aqui, bem forte, umas boas pauladas no pessoal que tem estado à frente deste barquito mal tratado e desgovernado. Mas hoje enganaram-se, pois não vos vou falar de política, mas sim de um outro assunto tão ou mais importante e que me tem andado para aqui a moer a cabeça. Trata-se dessa rapaziada apelidada de "nouvelle cuisine" portuguesa, esse pessoal que por aí tem aparecido a espalhar meia dúzia de azeitonas e um quarto de tomate em cima de uma travessa e a dizer que se trata de um prato tipicamente português, só que amanhado para agradar aos turistas que, coitadinhos, não gostam do efeito visual dos pratos tipicamente portugueses, que primam pela fartura. Ora, na minha maneira de ver, esses tais de "nouvelle" o que andam é a denegrir o que é tipicamente português, e não são mais do que agentes disfarçados do Senhor François Hollande e da Senhora Angela Merkel que, como toda a gente sabe, o que querem é matar-nos à fome e ficar com o nosso já muito pouco dinheirinho das reformas, das pensões e dos salários dos nossos reformados e funcionários públicos (bolas!... lá tive que bater outra vês nos desgraçados dos políticos...).

 

Mas que vem a ser isso de "nouvelle cuisine" qual quê?... "ancien cuisine" portuguesa sempre, fome nunca mais!... não me venham cá enfeitar o prato com uma lasquita de bacalhau e dois salpicos de azeite, bacalhau é à posta e a nadar no dito; não me venham enganar com dois feijões e um quinto de rodela de salpicão e dizer que se trata de tripas à moda do Porto, pois tripas à moda do Porto é mesmo com tripas, feijão a sério, salpicão e chouriço; ah... já agora, e porque o S. João está à porta, não se atrevam a colocar-me na mesa uma lasca de lombo de sardinha assada e uma colher de chã de raspa de pimento, pois sardinha assada no S. João para mim nunca são menos de três das grandes, ou quatro se forem médias. Com pimento à descrição, claro... e uma caneca de verde tinto carrascão!...

 

Por aqui se pode ver que nunca trocaria uma ida à Tasca da Badalhoca, na Boavista... por uma degustação "nouvelle" no Sheraton!...

 

 

Sondagens e... tripas enfarinhadas

Aquelas eleições da passada quinta-feira no Reino Unido vão ficar mesmo imorredoiramente na história como a maior das demonstrações do que valem verdadeiramente as sondagens eleitorais. Aquilo foi um ataque diário à cabecinha dos eleitores ingleses, fazendo-os acreditar que o resultado seria um empate entre os conservadores e os trabalhistas... porque assim diziam as sondagens. No final foi o que já todos sabemos, uma retumbante vitória do partido conservador... e por maioria absoluta. Aqui em Portugal, sempre que se fala em sondagens, não deixo de me perguntar porque motivo em tantos actos eleitorais em que tenho participado nunca fui contactado, pessoalmente ou por telefone, para dar a minha modesta opiniãosinha quanto ao voto. Também não conheço ninguém que o tenha sido por uma dessas duas formas. Porque será? Será que as sondagens são mesmo efectuadas ou tudo não passará de uns quantos desejos e vontades atamancadamente expressas em números, que depois raramente se confirmam? Sempre desconfiei de certas sondagens e o que se passou nas últimas eleições do Reino Unido é claro de mais para a minha embatocada inteligência.

 

Já se me fizerem uma sondagem, o que duvido, a saber se a ASAE deveria ou não proibir a venda das nossas famosas e populares tripas enfarinhadas nas tascas e restaurantes cá da terrinha, desde já vos afirmo que voto redonda e abertamente contra a proibição, ainda para mais agora que cá em casa descobrimos que as ditas tripinhas vão que nem canja envolvidas em molho de francesinha (atenção... molho caseirinho!...). Claro que tal sondagem seria absurdamente desnecessária, pois é comummente sabido que o partido dos cotas está mais que derrotado quanto ao consumo destas e doutras outrora nacionais e populares iguarias, já que o partido dos putos leva avassaladora vantagem a partir do momento em que a poderosa ASAE atraiçoou o rico património gastronómico português e se bandeou para o lado das multinacionais do "fast food".

 

Não sei se já participaram alguma vez numa verdadeira sondagem. Quanto a mim, se algum dia acontecer... eu aviso-vos!...

 

 

Mas que grande caldeirada!...

Nada como uma boa caldeirada para animar o estomago e o espírito e nos trazer à lembrança aqueles pratos divinais feitos pelas nossas mães e avós. Claro que não me refiro aqui àquelas caldeiradas que por vezes presenciamos nos telejornais, em que todos vemos que são mais aqueles que metem os pés pelas mãos que os que falam com algum acerto, como foi o caso daquela intervenção do nosso Primeiro Ministro Passos Coelho, na Assembleia da República, tentando demonstrar que Portugal não se vergou à Alemanha no caso do diferendo da União Europeia com a Grécia. Não, do que aqui vos falo é das caldeiradas mesmo a sério, daquelas feitas para nos darem prazer à mesa e nos fazerem relembrar as coisas boas e naturais que temos em tão grandes quantidades no nosso aprazível e solarengo país.

 

Para se ter uma boa caldeirada teremos que cortar uma boa quantidade de rodelas de cebola e colocá-las bem no fundo do tacho, em toda a sua base. De seguida cortam-se batatas também às rodelas e espalham-se por cima da cebola, seguindo-se logo uma camada de peixe variado e outra de tomate e pimento ao natural, cortados aos pedaços, e assim sucessivamente, tendo em conta a quantidade pretendida. Para quem gostar, deve-se juntar em cada camada umas folhinhas de loureiro e, no final, temperar com azeite, vinho branco, um pouco de água, pimenta e sal. Claro que não convém nada fazer aqui como fez o nosso Primeiro Ministro, tentando aldrabar o cozinhado e subtrair elementos essenciais ao mesmo, pois caldeirada sem peixe variado não é caldeirada, caldeirada sem tomate com fartura nem pensar, sem pimento é um autêntico crime, e sem vinho branco, pimenta e sal é uma autêntica e monocórdica encavacada pasmaceira.

 

Ontem cá em casa foi dia do saboroso e sempre desejado pitéu, e só vos digo uma coisa... mas que grande caldeirada!...

 

 

Fresquinho... da Noruega!...

Aqui há dias, no decorrer do Jornal das 8, da SIC, apareceu uma reportagem sobre o "Skrei" da Noruega, um tipo de bacalhau fresco que é capturado entre os meses de Fevereiro e Abril, antes da desova, vindo do Mar de Barents. Este tipo de bacalhau, para manter a exigente qualidade imposta pelas autoridades norueguesas, deverá ser embalado nas primeiras 24 horas depois da apanha. No decorrer da reportagem, que decorreu na ilha de Husoy (com um tracinho no o...), lugar de Senja, Noruega, também por lá apareceu o chefe português do ano, António Loureiro, que após uma refrescante sessão de pescaria do nosso "fiel amigo" deliciou os boquiabertos noruegueses com um autêntico festival da nossa gastronomia, toda ela tendo como base o famoso "Skrei". Por mim, e logo que o encontre no mercado, a preços acessíveis claro, não deixarei de tirar as medidas ao, pelos vistos, delicioso "Skrei", que cá para mim, e sendo como é, no fundo, bacalhau... só pode ser mesmo bom!...

 

Mas um dos aspectos que mais me chamou a atenção na referida reportagem foi a altura em que apareceu um grupo de crianças a irromper voluntariamente pela fábrica de processamento  do bacalhau dentro e a serem apresentadas como crianças com mais de 10 anos que, após a saída da escola, vão cortar as famosas e caríssimas linguas de bacalhau, podendo ganhar cada uma delas, em não mais que duas horas de trabalho, com brincadeira à mistura claro, até 90 euros (4 euros/Kg), muito, mas muito mais, do que ganham os trabalhadores adultos em Portugal num dia inteiro de trabalho. Justificou a proprietária da fábrica a utilização da mão de obra voluntária das crianças, que em Portugal se chamaria tecnicamente "exploração de mão de obra infantil", com a necessidade de que elas sintam que é através do trabalho que se obtêm as coisas que nos são mais úteis na vida. Perguntado a algumas das crianças o que iriam elas fazer com o dinheiro que aí ganhavam, as respostas foram soberbas: para aplicar numa "conta poupança", para investir na "educação" e para comprar um "automóvel" quando for maior.

 

Como é que os noruegueses não hão-de ter um melhor nível de vida que nós, portugueses?...

 

 

Castros e petingas, penedos amoladoiros e rissóis de camarão

No último domingo do ano meti-me à aventura e fui dar água sem caneco lá para os lados de Labruge, Vila do Conde. Não sei porquê mas custa-me desligar-me do mar, pois, vivendo todos os dias com o mar tão perto... decidi-me e fui de novo respirar o mar. Será que nas minhas veias corre sangue viking, esso povo guerreiro adorador do oceano?... efectivamente não sei... mas suspeito que os "rus", povo viking que deu origem ao reino de Kiev e mais tarde ao povo russo, devem ter algo a ver comigo. Pois, como ia dizendo, cheguei a Labruge, Vila do Conde, vindo de Angeiras, Matosinhos, quando me deparei com uma tabuleta que me indicava o Castro de S. Paio. Castro, civilização celta, história, local desconhecido, novos conhecimentos, novidades, praia, mar, aventura, conjugação de sensações explosivas... e lá fui eu a correr.

 

O Centro Interpretativo de S. Paio, no Lugar de Moreiró, Labruge, Vila do Conde, é um espaço cultural interesantíssimo situado mesmo junto a uma praia lindíssima. Aí podemos inteirar-nos e apreciar as ruinas de um antigo castro, povoado da idade do ferro habitado por povos a quem os romanos apelidaram de Calaicos, e que é tão somente o único castro marítimo da parte portuguesa do noroeste da península. No Centro Interpretativo, todo muito bem documentado com informação e objectos, podemos apreciar diversas peças arqueológicas recolhidas no local e fora dele, como pequenos brincos em pedra que serviam para fazer peso nas redes de pesca, machados de pedra, pequenos objectos de cerâmica e outros usados para tecer. Mesmo junto ao mar, podemos ver ainda os chamados "penedos amoladoiros", rochas utilizadas para afiar os machados de pedra.

 

Como o Centro Interpretativo é servido por um pequeno bar-restaurante, decidi aproveitar para dar uma vista de olhos e analisar o cardápio e, sentado à mesa, surpresa das surpresas... mas que ricas petingas (sardinhas pequenas) fritas em farinha milha, que excelentes rissóis de camarão, que saborosos bolinhos de bacalhau... daqueles com bacalhau a sério. Mas há mais, que ficam para degustar na próxima visita, como aquele pratinho que vimos passar mesmo rente ao nosso nariz... mas que ricas ameijoas com molhinho servido à maneira!...

 

Para quem gostar da mescla apresentada... uma visitinha a não perder num próximo domingo!...

 

 

Simplesmente... Natal!...

Haverá alguém que não goste do Natal?... haverá certamente, mas a grande maioria estou certo de que gosta ou, pelo menos, tolera. Natal faz-nos lembrar os tempos de criança, em que tudo é sonho e fonte de divertimento, em que a vida se nos depara pela frente em toda a sua pujança e esplendor. Natal a mim faz-me lembrar aqueles anos em que minha mãe e meu pai se levantavam cedo nesse dia para irem à missa e nós, miúdos, ficavamos ansiosamente aguardando que chegassem para saltarmos de um pulo da cama para inspeccionarmos os brinquedos depositados debaixo da chaminé lá de casa. Natal para mim são as rabanadas feitas com pão de carcaça, leite, ovos e muito sabor a limão e pau de canela. Natal para mim é a saborosa letria feita com leite, limão, canela em pau e desenhos de canela em pó. Natal para mim é a grossa posta de bacalhau cozido, bem ornamentado com batata, penca, alho, azeite e vinagre. Natal para mim é o bolo rei e o pão de ló do Pingo Doce... e um bom queijo da serra regado com Vinho do Porto.

 

Mas então, dirão vocês, e o espírito de Natal, aquela doce sensação de bem estar, entreajuda e solidariedade para com os que nos rodeiam? Bem, esse espírito carece de estar presente em nós durante todo o ano e não só na época de Natal, como por muitas e variadas razões geralmente acontece. Se há algo com que não me resigno no período de Natal é com os elevados índices de consumismo e despesismo em escala elevada, sinais de que a dura austeridade afinal não toca a todos... somente aos da base da pirâmide. Claro que milhares trocarão de carro e outros milhares partirão de férias para a neve, somente ficaremos por saber se serão os mesmos milhares que este ano viram os seus carros de luxo confiscados pelas Finanças, como foi noticiado há dias, que isto de querer mostrar "status" a toda a força mas não ter um vintém para mandar tocar um cego tem os seus custos na "fotografia" social.

 

Para mim, que sempre me contentei com pouco, que venham então daí o grosso bacalhau, as bem molhadas rabanadas, a doce e requintada letria, o bem frutado bolo rei, o macio pão de ló, o suave e amanteigado queijo da serra, o espirituoso e bem português Vinho do Porto e, se possível, um interessante e bem documentado livro de história... que já me dou por inteiramente satisfeito.